A tragédia que se desenrola de modo dramático na Amazônia nos últimos meses, com a pandemia atingindo em cheio uma das áreas mais pobres e vulneráveis do país ao mesmo tempo em que o ritmo de destruição florestal cresce alucinadamente, tem ingredientes antigos que deixaram a floresta e seus habitantes ainda mais expostos e ameaçados.
Em artigo para a Ilustríssima, da Folha, Marcos Colón, Luís de Camões Lima Boaventura e Erik Jennings mostram como a aceleração do desmatamento e a degradação ambiental da Amazônia têm relação direta com a precariedade das condições da saúde pública na região, o que ampliou a letalidade da COVID-19.
A destruição florestal tem sido um fator importante para a ocorrência de epidemias na Amazônia nos últimos tempos. A aceleração do desmatamento a partir dos anos 1970 trouxe um aumento proporcional nos casos de malária na região, com picos que coincidem com os piores momentos de devastação ambiental.
“A pobreza, a desigualdade e as precárias condições sanitárias da maioria das cidades da Amazônia, decorrentes desse modelo de desenvolvimento predatório, proporcionam condições adequadas para a proliferação de doenças como dengue, chikungunya e zika, que eram mais frequentes em outras regiões do Brasil”, ressaltam os autores.
Com as mudanças recentes na estrutura de fiscalização do desmatamento e de proteção social e legal a comunidades indígenas, intensificadas de maneira brutal pelo governo Bolsonaro, os autores dizem que uma “necropolítica” está em curso no Brasil, com “o uso do poder social e político para determinar como as instituições atuam, como algumas pessoas podem viver e como algumas devem morrer”.
ClimaInfo, 21 de maio de 2020.
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