A crise climática é racista

2 de junho de 2020

O assassinato de George Floyd por um policial na cidade de Minneapolis, no estado de Minnesota, foi o estopim de mais uma crise social, política e racial nos EUA. Na última semana, protestos foram registrados em todo o país, com episódios violentos de confronto entre policiais e manifestantes e saques a estabelecimentos comerciais em cidades como Los Angeles, Chicago, Nova York e Atlanta.

A morte de Floyd se insere em uma longa lista de crimes cometidos por policiais na abordagem de indivíduos negros e despertou nos EUA um novo momento de reflexão sobre a questão do racismo estrutural na sociedade e nas instituições do país.

Na origem disso tudo, temos um sistema que conserva desigualdades geradas a partir da segregação racial, que prejudica negros e outros grupos raciais em favor dos brancos. É nesse ponto que a crise racial encontra a crise climática, aponta Eric Holthaus, meteorologista e ativista climático.

“A mudança do clima é racista porque o sistema que a causou também é racista. Não, tempestades não se importam com a cor da pele, mas a piora nas condições climáticas agravam as divisões que já existem na sociedade, pois ela atinge os negros que vivem na pobreza”, argumenta Holthaus. “De maneira simples, a razão pela qual o mundo não está lutando contra a mudança do clima da forma como deveria é porque pessoas poderosas não querem parar de explorar os negros. A urgência da mudança do clima também é a urgência da justiça racial”.

As desigualdades que tornam pessoas de minorias raciais mais vulneráveis à pobreza são as mesmas que as tornam igualmente vulneráveis aos efeitos mais nefastos da crise climática. Não é à toa que a pandemia atingiu mais pessoas negras do que brancas em países como EUA e Brasil: a falta de atenção pública, que vai da infraestrutura mais básica (como saneamento) até o apoio financeiro emergencial, torna esses cidadãos mais susceptíveis a eventos críticos como epidemias, enchentes, deslizamentos de terra, estiagens, entre outros. Como Jonathan Lawson bem coloca, não existe progresso na luta contra a crise climática sem que lutemos também contra o racismo.

“A crise climática é resultado do racismo e do colonialismo e da visão de mundo imperialista que enxerga Terras Indígenas na África, Ásia e nas Américas como lugares para saque, roubo e extração de riquezas, ao invés de lugares com história, conhecimento, famílias e culturas para proteger e defender”, aponta Keya Chatterjee, diretora-executiva da Climate Action Network (CAN) nos Estados Unidos. “As comunidades que menos contribuíram para a crise climática são as mais atingidas precisamente porque foram tornadas vulneráveis pelo racismo e pelo imperialismo”.

 

ClimaInfo, 2 de junho de 2020.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)
x (x)

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar