O risco florestal das cadeias produtivas de commodities

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Cinco empresas dominam cerca de 70% do comércio global de commodities agrícolas, como soja, carne bovina e óleo de palma, responsáveis pelo desmatamento em países como Brasil, Paraguai, Argentina e Indonésia. Este é um dos destaques do Anuário 2020 publicado pelo centro de estudos Trase que, em parceria com a Global Canopy, sistematiza informações sobre cadeias de suprimentos das principais commodities agrícolas e seu impacto sobre a conservação florestal.

De acordo com o relatório, as traders ADM, Bunge, Cargill, Louis Dreyfus e COFCO são as cinco maiores exportadoras de soja do Brasil e responsáveis por mais da metade do comércio deste produto do Brasil, da Argentina e do Paraguai em 2018. Para os autores, essa concentração deveria facilitar o monitoramento das cadeias de suprimentos para evitar a compra de produtos feitos em áreas com algum tipo de irregularidade. No entanto, o que se vê é o contrário, nem mesmo compromissos voluntários assumidos por estas companhias foram capazes de conter o aumento do desmatamento ilegal associado às suas operações comerciais.

No caso do Brasil, a exportação de carne bovina para o mercado chinês é um motor importante para o desmatamento na Amazônia e no Cerrado. O relatório identifica também que a produção de carne “halali”, voltada para os mercados muçulmanos no Oriente Médio e Norte da África, está associada a um desmatamento cinco vezes maior que a produção de carne bovina em geral para exportação.

O levantamento mostra também os riscos relativos à compra de soja no estado do Mato Grosso. Cerca de 20% desse produto importado pela União Europeia – 21% no caso da China – em 2018 provavelmente foram provenientes de fazendas envolvidas com desmatamento ilegal.

O sumário executivo do Anuário está disponível aqui.

Em tempo: Mesmo com a pandemia, o agronegócio brasileiro vive seu melhor momento – mas o desmatamento crescente na Amazônia pode ser fatal para o futuro dos negócios. Na Exame, Carla Aranha destaca que, enquanto o PIB brasileiro deve retrair até 9% em 2020, espera-se que o PIB do agronegócio cresça 2,5% neste ano, chegando a R$ 728,6 bilhões – um recorde histórico para o setor. Os números de 2020 prenunciam uma década de expectativa positiva para o agronegócio brasileiro, conforme afirmado recentemente pela FIESP em seu anuário para o setor. No entanto, o sonho dourado do agronegócio brasileiro pode encontrar uma realidade mais dura caso a destruição da Amazônia siga crescendo. Afinal, como a Exame ressalta, “os corredores de umidade na Amazônia formaram-se de modo a provocar chuvas na hora certa e na quantidade certa, principalmente no Centro-Oeste e no Sudeste”. O que acontecerá se não tivermos mais esses corredores de umidade?

 

ClimaInfo, 3 de julho de 2020.

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