O risco florestal das cadeias produtivas de commodities

3 de julho de 2020

Cinco empresas dominam cerca de 70% do comércio global de commodities agrícolas, como soja, carne bovina e óleo de palma, responsáveis pelo desmatamento em países como Brasil, Paraguai, Argentina e Indonésia. Este é um dos destaques do Anuário 2020 publicado pelo centro de estudos Trase que, em parceria com a Global Canopy, sistematiza informações sobre cadeias de suprimentos das principais commodities agrícolas e seu impacto sobre a conservação florestal.

De acordo com o relatório, as traders ADM, Bunge, Cargill, Louis Dreyfus e COFCO são as cinco maiores exportadoras de soja do Brasil e responsáveis por mais da metade do comércio deste produto do Brasil, da Argentina e do Paraguai em 2018. Para os autores, essa concentração deveria facilitar o monitoramento das cadeias de suprimentos para evitar a compra de produtos feitos em áreas com algum tipo de irregularidade. No entanto, o que se vê é o contrário, nem mesmo compromissos voluntários assumidos por estas companhias foram capazes de conter o aumento do desmatamento ilegal associado às suas operações comerciais.

No caso do Brasil, a exportação de carne bovina para o mercado chinês é um motor importante para o desmatamento na Amazônia e no Cerrado. O relatório identifica também que a produção de carne “halali”, voltada para os mercados muçulmanos no Oriente Médio e Norte da África, está associada a um desmatamento cinco vezes maior que a produção de carne bovina em geral para exportação.

O levantamento mostra também os riscos relativos à compra de soja no estado do Mato Grosso. Cerca de 20% desse produto importado pela União Europeia – 21% no caso da China – em 2018 provavelmente foram provenientes de fazendas envolvidas com desmatamento ilegal.

O sumário executivo do Anuário está disponível aqui.

Em tempo: Mesmo com a pandemia, o agronegócio brasileiro vive seu melhor momento – mas o desmatamento crescente na Amazônia pode ser fatal para o futuro dos negócios. Na Exame, Carla Aranha destaca que, enquanto o PIB brasileiro deve retrair até 9% em 2020, espera-se que o PIB do agronegócio cresça 2,5% neste ano, chegando a R$ 728,6 bilhões – um recorde histórico para o setor. Os números de 2020 prenunciam uma década de expectativa positiva para o agronegócio brasileiro, conforme afirmado recentemente pela FIESP em seu anuário para o setor. No entanto, o sonho dourado do agronegócio brasileiro pode encontrar uma realidade mais dura caso a destruição da Amazônia siga crescendo. Afinal, como a Exame ressalta, “os corredores de umidade na Amazônia formaram-se de modo a provocar chuvas na hora certa e na quantidade certa, principalmente no Centro-Oeste e no Sudeste”. O que acontecerá se não tivermos mais esses corredores de umidade?

 

ClimaInfo, 3 de julho de 2020.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

x (x)

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar