Presidente do Azerbaijão diz que combustíveis fósseis são “presente dos deuses”

Presidente Azerbaijão combustíveis fósseis
Kremlin.ru/Wikimedia Commons

Ilham Aliyev usa discurso sobre clima em Berlim para pressionar por grandes investimentos estrangeiros para impulsionar exportações de gás fóssil do país para a Europa.

A sete meses de sediar a COP29, o Azerbaijão deu mais um sinal de que não moverá uma palha para incluir a eliminação dos combustíveis fósseis em decisões da conferência do clima, cujo principal tema será o financiamento climático. E para isso, apelou até mesmo aos “deuses”, mesmo sendo um país cuja população é majoritariamente muçulmana.

No Diálogo Climático de Petersberg, em Berlim, o presidente azeri, Ilham Aliyev, disse que o petróleo e o gás fóssil seriam necessários durante “muitos mais anos”, destaca a Bloomberg. E destacou um acordo alcançado com a União Europeia para aumentar o fornecimento de gás para ajudar a compensar as deficiências russas após a invasão da Ucrânia.

“Como chefe de um país que é rico em combustíveis fósseis, é claro que defenderemos o direito desses países de continuarem a investir e a continuarem a produzir, porque o mundo precisa disso. Ter depósitos de petróleo e gás não é culpa nossa. É um presente dos deuses”, afirmou.

O fato de o Azerbaijão acolher a COP29 chamou a atenção para os seus planos de expandir massivamente a produção de gás fóssil. Uma análise da Global Witness vista pelo POLITICO sugere que os planos do país gerariam emissões de dióxido de carbono iguais à toda a produção anual da Rússia.

A Europa é o grande mercado no qual Aliyev está de olho. O presidente azeri disse que seu país aumentará suas exportações de gás fóssil para o continente europeu para atingir 20 bilhões de metros cúbicos até 2027, tendo em conta a atual situação geopolítica, explica a Reuters. “É um sinal de responsabilidade do Azerbaijão porque estamos investindo em grande parte no aumento da nossa produção de gás porque a Europa precisa de mais gás de novas fontes.”

O petróleo e o gás fóssil representam cerca de 90% das receitas de exportação do Azerbaijão e financiam cerca de 60% do orçamento do governo, segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em Inglês). Segundo Aliyev, essas reservas estão sendo utilizadas para o desenvolvimento do país, redução do desemprego e resolução de outras questões, relata o Financial Times.

No melhor estilo “morde-e-assopra” climático, o presidente designado da COP29 e ministro da Ecologia e Recursos Naturais do Azerbaijão, Mukhtar Babayev, que trabalhou por mais de 20 anos na petroleira estatal azeri, disse que seu país compreende que precisa de liderar pelo exemplo e se comprometeu a “colocar a ação climática no coração dos nossos planos de desenvolvimento nacional”. Na mesma reunião em Berlim, contou que seus dois pilares para a agenda da conferência eram “aumentar a ambição e permitir a ação”.

 

 

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ClimaInfo, 29 de abril de 2024.

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