As três grandes companhias brasileiras de carne – JBS, Marfrig e Minerva – obtiveram cerca de R$ 700 milhões em 2019 no mercado de capitais do país por meio de produtos financeiros chancelados pela B3, inclusive alguns que deveriam promover boas práticas ambientais, sociais e de governança (ASG).
No Eco, Fernanda Wenzel, Pedro Papini e Naira Hofmeister detalham como instrumentos que o mercado financeiro brasileiro divulga como sustentáveis estão servindo para que empresas com negócios que resultam em desmatamento ganhem ainda mais dinheiro. Os autores destacam os chamados índices representativos, nos quais a Bolsa inclui companhias selecionadas por combinarem bom desempenho no mercado de ações, com elevado padrão de gestão. As companhias citadas estão listadas em ao menos 14 dos 34 índices da B3, incluindo índices de referência para sustentabilidade e governança. Esses índices orientam os investidores, dando destaque a companhias com alto potencial de retorno financeiro e boas práticas socioambientais e de governança administrativa.
Ainda que os frigoríficos não façam parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), o primeiro e mais conhecido índice da B3 vinculado à sustentabilidade, muitas corretoras incluem JBS, Marfrig e Minerva em carteiras de fundos que vendem aos clientes como ambientalmente responsáveis – e inspirados no ISE. Assim, a lógica do investimento responsável acaba sendo desvirtuada na prática, enfraquecendo o que deveria ser uma ferramenta-chave para a transição para uma economia de baixo carbono.
Em tempo: Enquanto isso, no cenário internacional, o Brasil segue sendo percebido como um mercado duvidoso para novos investimentos. Em live realizada pelo jornal Valor ontem (6/7), o presidente do Credit Suisse Brasil, José Olympio Pereira, disse que “há muito ceticismo neste momento em relação à gente, está difícil mostrar que o Brasil vai crescer e tem muito ruído em torno do país de uma forma geral”. Junto com a incerteza sobre a recuperação econômica do país após a pandemia, os investidores também estão receosos quanto à atratividade do mercado brasileiro, especialmente em termos ambientais.
ClimaInfo, 7 de julho de 2020.
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