Governo Bolsonaro define estratégia publicitária contra críticas ambientais na Europa

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Depois das primeiras rodadas de conversas com investidores e empresários, o governo Bolsonaro avança na 2ª frente de sua resposta às críticas internacionais ao desmatamento e à sua política ambiental. De acordo com o Estadão, o Ministério das Comunicações trabalha com a divulgação de peças publicitárias nos horários comerciais de emissoras de televisão na Europa, com foco especial na Alemanha e na França. As peças atenderão a duas missões: dissociar a imagem do agronegócio brasileiro da questão do desmatamento da Amazônia, e contestar a narrativa de que o país vive uma crise ambiental.

Para os investidores, essa resposta cosmética pode ser insuficiente. Como destacou o economista Alberto Ramos, chefe da área de pesquisas econômicas sobre América Latina do banco Goldman Sachs, existe um “certo desencanto” com o país, resultado de anos de instabilidade política, baixo crescimento, conflitos sociais e, agora, problemas ambientais.

“O grande investidor institucional tem preocupação ambiental. E o Brasil, como guardião da Amazônia, pode se prejudicar caso não tome as medidas percebidas como necessárias para a preservação”, disse Ramos, em entrevista ao Estadão. “Diria que o risco ambiental não é um custo enorme no curto prazo, mas no futuro pode ser. É mais um fator, em uma linha bastante longa, que atrapalha o Brasil”.

Para a agricultura, o problema ambiental não é resultado apenas de uma crise de imagem, mas principalmente da falta de políticas ambientais e a visão equivocada sobre essa pauta dentro do agronegócio brasileiro. Para a ex-ministra Izabella Teixeira, esse equívoco acabou colocando a produção agrícola em contraponto à conservação ambiental, como se ela fosse “patrocinadora” do desmonte ambiental, especialmente agora, sob o governo Bolsonaro. “Acho que o Brasil todo, o agronegócio brasileiro, deveria defender a Amazônia explicitamente, mesmo quem não tem nada lá”, disse. “Temos que enfrentar o desmatamento que está associado, infelizmente, a mais de 90% de taxas de crimes. Não só crime ambiental, mas a uma cadeia de crime organizado”.

A toxicidade da imagem externa no Brasil é tão grande que até mesmo Delfim Netto, ex-ministro de governos da ditadura militar (tão celebrada pelo presidente Jair Bolsonaro), ressaltou a gravidade da crise causada pela destruição ambiental. “Foram atitudes obscurantistas do ministro do meio ambiente (que execrou os competentes burocratas de seus quadros) que ajudaram nossos competidores a transformar o Brasil no pária destruidor do equilíbrio ambiental do planeta Terra”, escreveu Delfim em coluna na Folha.

Em tempo: O julgamento em 2ª instância do processo que condenou Ricardo Salles por improbidade administrativa, ao adulterar mapas do Plano de Manejo da Várzea do Rio Tietê, foi adiado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo. De acordo com o Congresso em Foco, a data inicial para esse julgamento era 3 de setembro, mas o desembargador Nogueira Diefensthaler retirou a ação da pauta da corte, a pedido de Salles. O ministro pediu a inclusão de um novo parecer nos autos do processo. O TJ paulista não definiu uma nova data.

 

ClimaInfo, 23 de julho de 2020.

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