A cena não poderia ser mais constrangedora e reveladora das pretensões de Bolsonaro para a Amazônia: o documentário “O Fórum”, sobre o Fórum Econômico Mundial de 2019, mostra um curto diálogo entre o brasileiro, acompanhado por Ernesto Araújo, e o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore. No trecho viralizado nas redes sociais, Gore manifesta preocupação com a Amazônia: “É algo que me toca profundamente”. Enquanto ouve a tradução, o Bolsonaro devolveu: “Temos muita riqueza na Amazônia e eu adoraria explorar essa riqueza com os EUA”. Diplomaticamente, Gore responde que não entendeu bem o que Bolsonaro quis dizer.
No UOL, Leonardo Sakamoto lembrou que, tempos depois, Bolsonaro repetiu a “oferta” para o atual presidente dos EUA (e aliado ideológico) Donald Trump.
Pode ser que Bolsonaro não soubesse que Al Gore recebeu em 2007 o Prêmio Nobel da Paz junto com o IPCC por seu engajamento na luta contra a mudança do clima. Ou talvez soubesse – e quisesse apenas confrontá-lo. De toda forma, é curioso ver Bolsonaro oferecendo tão explicitamente a Amazônia para potências estrangeiras explorarem. Afinal de contas, os militares brasileiros – entre eles, o próprio presidente – são historicamente refratários a qualquer tipo de ação externa que possa ferir a “soberania brasileira na Amazônia”. Mourão, o general-vice, vem liderando nos últimos meses um processo de militarização da atuação do governo federal na região, englobando desde ações in loco até o monitoramento via satélite. Considerando tudo isso, fica a dúvida: os milhões de reais que estão sendo gastos pelo governo brasileiro na Amazônia, no final das contas, servirão aos EUA?
A “oferta” presidencial foi matéria de Estadão, Exame, IG, O Globo e UOL, e até de comentário de Reinaldo Azevedo na rádio BandNews.
ClimaInfo, 26 de agosto de 2020.
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