No último dia 7, a Bolsa de Valores de Chicago e a Nasdaq começaram a negociar os primeiros contratos futuros de água da Califórnia. A proposta é permitir que produtores agrícolas, comerciantes e municípios possam fazer hedge sobre a disponibilidade futura de água no estado, que é o maior produtor agrícola dos EUA. Como explicou o Valor, esses contratos futuros ajudariam os usuários de água a gerenciar melhor seus riscos e equilibrar oferta e demanda em uma das regiões que mais sofreu com estiagem na última década nos EUA.
No entanto, o relator especial da ONU para água e Direitos Humanos, o espanhol Pedro Arrojo-Agudo, manifestou preocupação com a “comoditização” da água, que poderia prejudicar o acesso de comunidades e pessoas mais pobres a um recurso natural essencial para a sobrevivência humana. “Não se pode atribuir valor à água como se faz com outras commodities”, disse Arrojo-Agudo em nota. “A água pertence a todos e é um bem público. Está intimamente ligada às nossas vidas e aos meios de subsistência, e é um componente essencial para a saúde pública”. Arrojo-Agudo ressaltou que, com a comercialização de contratos futuros de água, existe o risco de monopolização do mercado pelos grandes players do agronegócio e da indústria, marginalizando e impactando, assim, setores mais vulneráveis da sociedade e da economia.
Lembrando que, no mês passado, a Organização da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgou relatório indicando que mais de 3 bilhões de pessoas em áreas agrícolas em todo o mundo estão sofrendo com a escassez hídrica. Nos últimos 20 anos, os recursos de água doce disponíveis por pessoa diminuíram mais de 20%, pressionados pelo crescimento populacional, o aumento do consumo e o desperdício de água.
Bloomberg, Business Insider e CNN também abordaram essa notícia.
ClimaInfo, 15 de dezembro 2020.
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