Especialistas criticam relativização do lobby fóssil em relatório científico preliminar da ONU

IPCC lobby fóssil

“Star Wars sem Darth Vader”. Essa é a analogia feita pelo sociólogo norte-americano Robert Brulle para apontar a dificuldade do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC) em reconhecer o impacto do lobby dos combustíveis fósseis nas ações climáticas globais. Nos últimos meses, alguns cientistas – entre eles, Brulle, se afastaram ou decidiram não se envolver com o Grupo de Trabalho 3 (WG3), responsável pelo desenvolvimento do 6º capítulo do próximo relatório de avaliação (AR5) do IPCC, dedicado a analisar caminhos e estratégias para a transição para o carbono zero. O principal motivo foi a falta de disposição do WG3 em identificar o lobby fóssil como uma das principais barreiras para a mitigação da mudança do clima.

O Climate Home ouviu Brulle e outros cientistas para fazer uma panorama dessas dificuldades. No pano de fundo dessas questões está uma dura realidade que permeia praticamente todas as manifestações do IPCC: o fato de que os governos têm um peso grande na definição daquilo que é publicado nos relatórios de análise. Isso sempre impregnou as discussões técnicas do Painel com elementos políticos que, em muitas ocasiões, rejeitavam considerações científicas mais contundentes que “pisassem no calo” de alguns governos. Outro ponto problemático, que persiste desde a criação do IPCC, é a atenção limitada dada a campos científicos como ciência política, sociologia e antropologia, que contrasta com a forte influência de análises econômicas nos relatórios do Painel.

 

ClimaInfo, 14 de janeiro de 2021.

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