Com quase quatro semanas de atraso, o Palácio do Planalto divulgou ontem (18/3) trechos de uma carta encaminhada por Joe Biden ao presidente Jair Bolsonaro. No documento, o presidente dos EUA defendeu a colaboração entre os dois países no enfrentamento à pandemia e à mudança do clima. Segundo a Secretaria de Comunicação do governo federal, Biden “enfatizou a responsabilidade comum dos dois líderes em tornar o Brasil e os EUA mais seguros, saudáveis, prósperos e sustentáveis para as gerações futuras”.
No entanto, o texto divulgado pela Secom não mostrou trechos literais da carta de Biden a Bolsonaro. Além disso, de acordo com a Folha, passagens importantes do documento foram omitidas pelo Planalto, em particular a cobrança feita pelo presidente norte-americano por mais ambição climática do governo brasileiro. A imprensa destacou também o timing dessa divulgação, que aconteceu no dia seguinte a uma entrevista do ex-presidente Lula à CNN norte-americana, na qual ele pediu que Biden atuasse para facilitar o acesso a vacinas pelos países em desenvolvimento. A fala de Lula foi vista como mais uma tentativa do ex-mandatário, e possível presidenciável de 2022, de se contrapor ao atual presidente, que sofre com críticas intensas dentro e fora do Brasil por causa da condução da pandemia e do desmonte da política ambiental. A resposta de Biden a Bolsonaro teve repercussão na CNN Brasil, G1, Reuters, UOL, Valor e Veja, entre outros.
Em tempo: Enquanto Biden e Bolsonaro recorrem à linguagem diplomática para distensionar as relações entre Brasil e EUA, a questão da Amazônia assume um peso inédito e pode definir o tom e o espírito das conversas bilaterais, ao menos nos próximos dois anos. A Economist se debruçou sobre as expectativas em torno desse diálogo, por ora ameno e amigável; no entanto, dependendo de como as coisas se desenrolarem, é possível que a Casa Branca busque outros interlocutores, desde governos locais até a sociedade civil e a iniciativa privada brasileiras, para reforçar o combate ao desmatamento e a proteção da floresta.
ClimaInfo, 19 de março de 2021.
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