O tamanho do abacaxi ambiental no colo do novo embaixador brasileiro 

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O novo ministro de relações exteriores do Brasil, embaixador Carlos Alberto França, não terá vida fácil no comando da política externa do país. Além da urgência de destravar o acesso dos brasileiros às vacinas contra a COVID-19, o novo chanceler também terá como grande desafio nesse começo de gestão reverter o mau humor internacional com o Brasil causado pelo desmonte da política ambiental e a escalada da destruição na Amazônia sob Bolsonaro.

Como Daniel Rittner observou no Valor, ninguém acredita que a diplomacia brasileira mudará radicalmente suas posições, já que elas refletem as prioridades políticas do presidente e de seu círculo mais próximo (e familiar) de apoiadores. Ainda assim, o chanceler França terá que mostrar alguma mudança na condução da política externa do país, especialmente no que diz respeito às interações de Brasília com a União Europeia nas conversas sobre meio ambiente. Manter o estilo e o discurso de enfrentamento ideológico, característicos da gestão caótica de Ernesto Araújo no Itamaraty, será um péssimo sinal para esses países e uma evidência decisiva da incapacidade de Bolsonaro de pensar e executar uma política externa minimamente racional.

Nesse ponto, a entrevista do diplomata Pedro Miguel da Costa e Silva à Veja pode oferecer alguns indícios do discurso que poderá marcar o começo da nova gestão no Itamaraty. Na conversa, o secretário para negociações comerciais para as Américas reclamou que “vários dos países que estão fazendo cobranças ao Brasil têm um enorme dever de casa” no que diz respeito à ação contra a mudança do clima – uma indireta pouco discreta a países como França, Alemanha e Estados Unidos. Costa e Silva também defendeu que o governo norte-americano “não se esqueça da parte deles em termos de financiamento para ajudar outros países como o Brasil” no cumprimento de suas metas climáticas. Se o discurso seguir nesse tom, será melhor esperar sentado por alguma mudança efetiva na política externa brasileira.

Em tempo: A reforma ministerial caótica promovida por Bolsonaro no começo da semana segue reverberando. Segundo o Correio Braziliense, a queda de Araújo no Itamaraty colocou Ricardo Salles como o alvo da vez entre os aliados do governo no Congresso. Para os partidos do Centrão, a permanência de Salles no meio ambiente seria contraproducente, por causa de sua imagem tóxica no exterior. Já a Folha informou que a disposição de Bolsonaro em demitir o ministro do meio ambiente é pequena, ainda que isso incomode o Centrão. No cálculo de Bolsonaro, a manutenção de Salles é peça importante no tabuleiro eleitoral para 2022, com o objetivo de manter o agronegócio ao seu lado na disputa presidencial.

 

ClimaInfo, de abril de 2021.

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