Desmatamento, violência e pandemia: tempos cruéis e futuro incerto na Amazônia

30 de julho de 2021

Jessica Brice e Michael Smith descreveram na Bloomberg a situação cada vez mais dramática da Amazônia brasileira, assolada por desmatamento, queimadas, grilagem e garimpo, pela conivência criminosa do governo Bolsonaro com atividades ilegais na região e pela pandemia de COVID-19, que ainda causa problemas floresta adentro. A reportagem destacou como o projeto político de destruição ambiental da era Bolsonaro retomou ideias e conceitos dos tempos da ditadura militar que enxergam a floresta como um empecilho para o crescimento econômico. A conclusão é preocupante: se a devastação continuar, a Amazônia pode entrar em um “caminho sem volta” de degradação ambiental, para prejuízo do Brasil e do mundo.

No Globo Rural, Daniel Vargas (FGV Agro) sintetizou o drama amazônico em quatro atos. Primeiro, a intensificação do desmatamento a partir dos anos 1980, que despertou a atenção do mundo para a situação da floresta. É nesse contexto que surgem os primeiros esforços de conservação – e os primeiros episódios de violência contra ativistas ambientais, como o ex-seringueiro Chico Mendes. Segundo, a implementação bem sucedida de um plano de combate ao desmatamento a partir dos anos 2000, que resultou numa queda de mais de 80% das taxas de desmate a partir de ações de comando-e-controle. Terceiro, o fracasso na construção de um projeto econômico alternativo, de promoção do desenvolvimento sustentável, na região amazônica. Finalmente, o “clímax”: a volta ao passado, com o desmatamento em alta e o governo conivente.

Para piorar, a pandemia segue agravada na Amazônia. De acordo com dados coletados pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), o número de mortos na região da floresta superou os 100 mil nesta semana. Grupos indígenas foram atingidos em cheio pela crise sanitária: as invasões de terra e a intensificação de atividades ilegais dentro de seus territórios, como o garimpo, os deixaram mais expostos ao novo coronavírus. Ao mesmo tempo, a vacinação segue lenta em toda a Pan-Amazônia.

No Brasil, além da falta de vacina, a corrupção também tem sido um obstáculo na vacinação indígena. De acordo com o G1, lideranças indígenas denunciaram que ao menos 106 doses da Coronavac destinadas à Terra Indígena Yanomami foram vendidas a garimpeiros em troca de ouro por servidores da secretaria especial de saúde (SESAI), ligada ao ministério da saúde. A Carta Capital também repercutiu o caso.

Em tempo: No UOL Tab, Ricardo Abramovay (USP) escreveu sobre o Plano de Recuperação Verde (PRV) do Consórcio de Governadores da Amazônia, que vem sendo apresentado a governos e empresas no exterior para facilitar a atração de recursos financeiros e, ao mesmo tempo, driblar a frustração internacional com o governo Bolsonaro. Abramovay enxerga na proposta duas virtudes fundamentais: ela consegue agregar vertentes políticas diferentes em torno de um objetivo comum e reinsere o Brasil na discussão internacional sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável, agendas deixadas de lado por Bolsonaro.

 

Leia mais sobre Amazônia e governadores pela Amazônia no ClimaInfo aqui.

 

ClimaInfo, 30 de julho de 2021.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar