Novo relatório do IPCC: limitar aquecimento em 1,5°C ainda é possível, mas ação precisa ser muito mais rápida e ampla

Relatório do IPCC AR6

O novo relatório de avaliação do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança do Clima (IPCC) trouxe uma resposta direta aos negacionistas: a crise climática é “inequivocamente” causada pela concentração atmosférica de gases de efeito estufa liberados pela humanidade ao longo dos últimos 150 anos. E um recado contundente para políticos e empresas: a janela de oportunidade para conter o aumento da temperatura média da Terra neste século em 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais ainda está aberta, mas os países precisam ampliar e acelerar os cortes de emissões ao longo desta década. “Não é mais um debate sobre se as ações humanas dão causa à crise climática, mas do quanto. E o quanto, estimado pela primeira vez é estarrecedor”, disse Stela Herschmann, do Observatório do Clima, ao blog Ambiência na Folha. “Além do mais, apesar de dizer que a chance de 1,5°C ainda existe, o documento também mostra que a janela para isso é estreita, e não comporta governos negacionistas”, conclui.

O custo da falta de resposta adequada à crise climática foi exposto em detalhes. A temperatura média da Terra já está 1,1°C acima dos índices anteriores à Revolução Industrial, em meados do século XIX, quando a queima de combustíveis fósseis se intensificou. Os níveis de dióxido de carbono no ar estão no ponto mais alto em pelo menos 2 milhões de anos. O aquecimento registrado no último século supera aquele observado em pelo menos 2 mil anos e provavelmente 100 mil anos. As temperaturas máximas também são as maiores em pelo menos 6,5 mil anos. Já o nível do mar, que aumentou 20 cm entre 1900 e 2018, está subindo no ritmo mais acelerado em três milênios e a acidificação do oceano é a maior em dois milhões de anos.

Para conter o aquecimento em 1,5°C neste século, o mundo precisa de “reduções imediatas, rápidas e em grande escala” das emissões de carbono. Ainda assim, mesmo que essa meta não seja possível, a humanidade não pode dar o braço a torcer: cada centígrado de temperatura média representa efeitos e impactos negativos que podem ser evitados no clima terrestre. Para algumas comunidades, especialmente aquelas mais vulneráveis, essa já é uma questão de vida-ou-morte. “O limite do aumento da temperatura a 1,5°C não está morto. Mas está muito mais complicado de ser atingido”, disse ao Valor Thelma Krug, vice-presidente do IPCC. O que fizermos nos próximos dez anos será crucial para determinar o curso futuro do clima.

Alguns impactos da mudança climática, porém, já são irreversíveis, o que reforça a necessidade do mundo avançar com medidas de adaptação climática para reduzir o risco de perdas humanas e materiais. “Há mudanças irreversíveis mais óbvias, como o derretimento de geleiras: essa água não vai voltar a congelar. E há outras mais sutis, como a perda de biodiversidade. Se uma espécie é extinta, isso não é reversível”, explicou Paulo Artaxo (USP), membro do IPCC, à Folha.

O relatório é fruto do trabalho de mais de 230 cientistas de 66 países, que passaram os últimos anos sintetizando mais de 14 mil estudos que representam o estado da arte da ciência climática. Ao todo, 517 pesquisadores contribuíram na elaboração do documento. O IPCC também organizou as informações e as projeções climáticas ao redor do mundo por meio de um atlas interativo.

Os dados do novo relatório do IPCC tiveram amplo destaque na imprensa brasileira, com reportagens em veículos como A Pública, CNN Brasil, Estadão, G1, Globonews, O Globo e Veja. No exterior, Associated Press, BBC, Bloomberg, Climate Home, Economist, El País, Financial Times, Foreign Policy, Guardian, Independent, Le Monde, NY Times, Reuters, Scientific American, Wall Street Journal e Washington Post também repercutiram essas informações.

Vale a pena conferir os comentários explicativos feitos pelo Observatório do Clima e a síntese da Reuters sobre cinco cenários de aquecimento futuro montados pelo IPCC.

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ClimaInfo, 10 de agosto de 2021.

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