Trump retira cientistas dos Estados Unidos do IPCC

Pela 1ª vez, os EUA não enviarão especialistas para uma reunião do IPCC, principal órgão científico da ONU sobre clima; participação futura segue em xeque. 
24 de fevereiro de 2025
(Wikimedia Commons)

Em uma medida que surpreendeu a comunidade científica internacional, o governo dos Estados Unidos vetou a participação de cientistas do país na sessão do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que acontece nesta semana em Hangzhou, na China. Além de impedir a viagem dos pesquisadores, a Casa Branca também pediu o congelamento da cooperação de seus órgãos científicos com o IPCC, o que coloca em risco o planejamento dos próximos relatórios sobre a crise climática.

A CNN revelou a decisão do governo Trump. Kate Calvin, cientista chefe e consultora sênior de clima da agência espacial norte-americana NASA, seria uma das copresidentes da sessão e chefe de um dos grupos de trabalho para o próximo ciclo de relatórios (AR7), mas teve sua participação desautorizada pela Casa Branca.

Além disso, a NASA também rescindiu o contrato que mantinha com cerca de dez cientistas norte-americanos que compunham a unidade de suporte técnico do Working Group III para o AR7 do IPCC. A medida deixa o grupo de trabalho acéfalo na prática e pode atrapalhar o planejamento para os novos relatórios, que devem começar a ser publicados em 2029.

Nem a NASA e nem a Casa Branca justificaram a decisão. Ao mesmo tempo, com o congelamento dos trabalhos com o IPCC, existe uma incerteza sobre como será o relacionamento futuro da comunidade científica norte-americana com o IPCC. Para cientistas de outros países, uma ausência prolongada dos EUA prejudicará decisivamente a ciência climática global.

“Sem os EUA, o IPCC falha”, disse Benjamin Horton, diretor do Observatório da Terra de Cingapura, que contribuiu para relatórios anteriores do IPCC, à Bloomberg. “Os EUA colocam mais dinheiro, mais pessoal, coletam mais dados e executam mais modelos para a ciência climática do que o resto do mundo combinado”.

A ausência dos EUA adiciona mais tempero em uma sessão que já estava bastante tensa no IPCC. Como o Climate Home destacou, alguns cientistas e representantes de nações vulneráveis à crise climática pressionam para que os relatórios do AR7 sejam concluídos antes da próxima revisão das políticas climáticas sob o Acordo de Paris, o chamado Global Stocktake, previsto para 2028. A proposta é rejeitada por países como Arábia Saudita, Rússia, China e Índia. Sem a ciência norte-americana no bolo, a antecipação fica ainda mais difícil.

Folha, Reuters, Valor e Washington Post, entre outros, também abordaram a ausência dos cientistas dos EUA na reunião do IPCC na China.

  • Em tempo: Por falar na NASA, vale a pena ler o texto de Salvador Nogueira para o Mensageiro Sideral, da Folha, acerca do desmonte promovido por Trump e seu sócio principal, o bilionário Elon Musk, na agência espacial norte-americana. Entre as ideias esdrúxulas do dono da SpaceX, ele quer derrubar a Estação Espacial Internacional “o mais rápido possível”, acabar com o programa Artemis de retorno à Lua e concentrar todos os recursos da NASA para a missão a Marte, uma de suas taras particulares preferidas. O conflito de interesse é mais óbvio que o redondo do Sol: a SpaceX é quem mais se beneficiaria com a mudança, tornando a NASA totalmente dependente de sua empresa.

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