Crise hídrica se agrava e o governo segue negando a gravidade

crise hídrica

Uma das maiores hidrelétricas do país está quase parada: o nível da represa de Ilha Solteira (3,4 GW) estava com menos de 1,5% da sua capacidade, segundo Gustavo Basso, no Yahoo Notícias. A chinesa CTG, dona da usina, disse que o nível está em 323 metros e que a usina pode operar até um nível de 314 metros.

A rigor, há duas crises hídricas se sobrepondo neste momento. A primeira é a que ocupa espaço em todos os jornais: choveu pouco no último verão e os gestores do sistema elétrico preferiram gastar água para tentar segurar a tarifa. Sérgio Cortizo escreveu para o UOL mostrando, a partir de dados do Operador Nacional do Sistema (ONS) que, entre o final de novembro e as chuvas de dezembro, faltará potência para atender à demanda do sistema. Suas contas indicam que haverá um déficit equivalente a uma semana de geração. Já o diretor geral do ONS, Luiz Ciocchi, acha que o sistema elétrico atravessará os próximos meses sem problemas. Como é de praxe nesse governo, não mostrou dados que sustentem sua opinião. Segundo matéria do Valor, ele disse que a recente inauguração de mais uma linha de transmissão e a entrada de mais uma térmica a gás darão conta do recado.

A segunda crise é que há 20 anos, em média, chove cada vez menos. Uma bola cantada por climatólogos e reforçada no recente relatório do IPCC. Ou seja, além de se recusar a enfrentar a gravidade do momento, o governo contribui para agravar a mudança do clima e, portanto, acelerar as próximas estiagens, ao insistir em ligar térmicas a gás e a carvão. Ricardo Baitelo, do IEMA, aponta para a necessidade de se diversificar a matriz elétrica, contratando-se mais eólicas, fotovoltaicas e a cogeração a biomassa: “Uma recuperação verde contra a bandeira vermelha”. Sob esse ótimo título, ele lembra, em artigo publicado no Valor, do desperdício de energia por conta do enorme parque de equipamentos ineficientes quando comparado ao que existe mundo afora.

Ontem o governo criou uma empresa que parece inspirada em animais mitológicos. Tem uma cabeça binacional para ser a parte brasileira de Itaipu, um corpo nuclear para cuidar das usinas de Angra e das projetadas e duas patas – uma para melhorar a eficiência do uso da eletricidade e outra para continuar subsidiando usinas renováveis do começo do século. A Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar) é a parte não privatizável da Eletrobrás e já nasce com um orçamento de R$4 bilhões para o ano que vem. Até ontem, o governo não explicou como será a estrutura organizacional do novo grifo (ou qualquer outro bicho fantasioso). O Globo soltou duas matérias sobre a ENBPar. A notícia também saiu na Folha e na CNN.

 

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ClimaInfo, 14 de setembro de 2021.

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