Déjà vu? Governo federal vai à COP26 de olho nos US$ 100 bi do financiamento climático

Brasil COP26 atras do dinheiro

Muda o ministro, mas a ladainha segue a mesma. Em almoço com ruralistas do Congresso Nacional nesta 2ª feira (5/10), o ministro do meio ambiente, Joaquim Leite, afirmou que pretende aproveitar a participação brasileira na COP26 para pedir dinheiro para ações climáticas no país. Na última COP, em 2019, seu antecessor, Ricardo Salles, causou burburinho nas negociações internacionais ao condicionar o cumprimento das metas climáticas do Brasil à oferta de pelo menos US$ 10 bilhões anuais, parte dos US$ 100 bilhões prometidos pelos países ricos para financiar mitigação e adaptação nos países pobres.

De acordo com André Borges no Estadão, desta vez Leite não apresentou nenhum “número mágico” como meta de recursos para o país, mas ressaltou que o Brasil cobrará dos governos desenvolvidos a meta de US$ 100 bilhões anuais sob o Fundo Climático Verde da ONU. “[Os países ricos] precisam ser mais ambiciosos do que esses US$ 100 bilhões. O desafio da economia verde é maior que US$ 100 bilhões”, disse o ministro.

O Globo Rural também noticiou o encontro, destacando o “alinhamento” entre a bancada ruralista e o ministro do meio ambiente. Leite prometeu aos representantes do agro no Congresso que o Brasil fará a defesa do setor em Glasgow, bem como das credenciais ambientais do país – a despeito da explosão do desmatamento e das queimadas e do desmonte da fiscalização ambiental sob Bolsonaro. A Reuters também repercutiu as falas de Pereira Leite.

Em Paris, o chanceler Carlos França conversou com a Bloomberg e reafirmou o interesse do Brasil em trazer recursos internacionais para a proteção da Amazônia durante a COP26. “Se pudermos conseguir ajuda do exterior, de empresas privadas, claro que poderíamos cumprir essas metas mais rápido do que se contarmos apenas com recursos do orçamento, que obviamente são mais escassos”, disse o diplomata.

Interessante, nenhum dos dois falou dos recursos travados pela tentativa de mudança da gestão e dos objetivos no Fundo Amazônia feita por Salles.

Em tempo: A União Europeia deve apresentar no próximo mês uma proposta para exigir dos importadores de carne bovina, soja, cacau, madeira e óleo de palma a certificação dessas commodities para garantir que sua produção não tenha qualquer relação com áreas desmatadas ilegalmente. Como Assis Moreira assinalou no Valor, a medida atinge diretamente os interesses do agronegócio brasileiro no mercado europeu em um momento no qual a imagem internacional do país está corroída por conta da crise ambiental.

 

ClimaInfo, 7 de outubro de 2021.

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