Rumo à COP26: desentendimentos e desconfiança marcam conversas antes da Conferência de Glasgow

Rumo à COP 2

“Uma semana antes de começar, a COP26 já recebeu sua extrema-unção”, escreveu George Hay na Reuters. O tom é exagerado, mas a preocupação é pertinente: as expectativas antes do encontro em Glasgow são ruins e têm piorado nos últimos dias. A esperança de um entendimento global, inspirado pelo alerta recente dos cientistas do IPCC sobre a gravidade da crise climática, não resiste a uma análise desapaixonada do tabuleiro geopolítico.

Nem mesmo Boris Johnson, anfitrião da Conferência de Glasgow, parece confiar no sucesso do encontro. Nesta 2ª feira (25/10), o premiê britânico não escondeu sua insegurança quanto aos resultados da COP e disse que a reunião pode ser um tiro no escuro. “Vai ser muito difícil. Estou muito preocupado, porque pode dar errado e podemos não conseguir os acordos de que precisamos”, disse Johnson. Bloomberg, Guardian, Reuters e Sky News destacaram o desabafo do primeiro-ministro.

A Bloomberg fez um panorama da situação antes do encontro de Glasgow. Por um lado, a chance de um entendimento em torno do artigo 6 do Acordo de Paris parece mais próxima, com os países fechando as regras para funcionamento do mercado internacional de carbono. Por outro, a lacuna do financiamento climático (ver nota sobre financiamento climático) e as dificuldades para avançar com reduções imediatas nas emissões associadas a carvão e metano continuam no meio do caminho, com a chance de um acordo cada vez menor.

Na revista TIME, Ciara Nugent destacou a frustração de representantes da sociedade civil e de movimentos sociais, especialmente dos países do Sul Global, com as dificuldades enfrentadas para se ir a Glasgow a partir da próxima semana. As promessas de ajuda do governo britânico para vacinação e quarentena não saíram do papel, ao menos do jeito que foi sinalizado meses atrás. Por exemplo, apenas uma das 11 pessoas que se inscreveram no programa de vacinação internacional via Climate Action Network (CAN International) foi efetivamente imunizada pelas autoridades britânicas.

Os custos exorbitantes de hospedagem em Glasgow também dificultam a ida de pessoas de países mais pobres. “As nações ricas estão em uma posição muito mais vantajosa, pois terão delegações massivas chegando. O desequilíbrio de vozes tornará mais difícil ouvir as necessidades dos países vulneráveis ​​dos países em desenvolvimento pobres”, comentou Tasneem Essop, diretora-executiva da CAN.

Ainda sobre os problemas na COP26, a CNN destacou a preocupação de autoridades inglesas e escocesas com a possibilidade de um aumento do número de casos de COVID-19 durante a Conferência. A taxa de infecção no Reino Unido disparou nas últimas semanas e, na semana passada, o número diário de mortos atingiu sua maior marca desde março.

 

ClimaInfo, 26 de outubro de 2021.

Se você gostou dessa nota, clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.