Vivemos um aquecimento global não visto há 5 milhões de anos

aquecimento global

Ontem, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) soltou seu boletim com os dados de 2020. Apesar das emissões globais terem caído um pouco por conta da pandemia, o balanço de emissões e remoções continuou subindo. A concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera no ano passado passou de 413 ppm (partes por milhão), uma vez e meia a do início da Revolução Industrial. A concentração de metano já é mais de duas vezes e meia maior do que a medida antes da Revolução Francesa. A última vez em que havia tanto CO2 na atmosfera foi entre 3 e 5 milhões de anos atrás, quando a temperatura média era de 2 a 3°C mais alta e o nível do mar pelo menos 10 metros mais alto, com a ressalva de que não havia quase 8 bilhões de seres humanos no planeta.

Petteri Taalas, secretário geral da OMM, avisou que “a concentração de CO2 na atmosfera ultrapassou o marco de 400 ppm em 2015. Em apenas cinco anos, ultrapassou 413 ppm. Isto é muito mais do que só uma fórmula química e números em um gráfico. Tem grandes e negativas repercussões em nossas vidas e nosso bem-estar, no estado do nosso planeta e no futuro de nossos filhos e netos” – lembrando que o CO2aquecimento global permanece séculos na atmosfera e ainda mais tempo nos oceanos.

A queima de combustíveis fósseis deu uma pequena desacelerada no ano passado, mas por conta do desmatamento, as remoções diminuíram e o balanço aumentou. O Boletim fala especificamente da Amazônia. Enquanto no oeste do bioma, a floresta se mantém relativamente neutra – ou seja, as emissões e remoções se equivalem – no leste, já é uma fonte emissora. Menos floresta significa menos umidade e menos chuva, o que contribui para haver menos floresta. Acelere esse processo um pouco e teremos ultrapassado o tipping point da floresta.

Por aqui, saíram notícias na Folha, Estadão, Valor, UOL e na CNN. Lá fora, no Guardian, Independent, Bloomberg, Financial Times, Reuters, BBC e na Euronews.

A Reuters repercutiu os comentários de Patrícia Espinosa, secretária executiva da Convenção do Clima, sobre os esforços e compromissos pífios apresentados pelos países até agora: “Ultrapassar as metas de temperatura levará a um mundo desestabilizado e a um sofrimento sem fim, especialmente entre aqueles que menos contribuíram para as emissões. Não estamos nem perto de onde a ciência diz que deveríamos estar”. Se todos os países cumprirem o que prometeram até agora, em 2030 a humanidade emitirá 16% mais gases de efeito estufa do que foi emitido em 2010, muito longe da redução de 45% preconizada pela ciência para limitar o aquecimento em 1,5°C.

 

ClimaInfo, 26 de outubro de 2021.

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