Tempo. Eis uma coisa que nos falta quando o assunto é mudança do clima. Essa carência não é acidental: gastamos um tempo precioso nas últimas décadas para encontrar um caminho contra essa crise, e a jornada ainda não acabou. Enquanto isso, emitimos cada vez mais carbono e outros gases de efeito estufa, piorando o problema.
Em quase três décadas de existência, a Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC) conseguiu colocar o tema no debate público internacional, mas os avanços práticos foram lentos (ou, em muitos casos, nulos). “Havia esperança de verdade”, comentou à Associated Press Oren Lyons, líder indígena norte-americano sobre a Cúpula da Terra (Eco-92), quando a UNFCCC foi assinada no Rio de Janeiro em 1992. Hoje, no entanto, “tudo está mal, [vivemos] 30 anos de degradação”.
O Guardian fez uma retrospectiva sobre a cobertura jornalística da crise climática desde os primórdios das negociações internacionais de meio ambiente, com a Conferência de Estocolmo de 1972. O balanço é agridoce: temas ambientais ganharam espaço e atenção na imprensa internacional, mas esses avanços não se refletiram em mudanças substanciais na forma como a economia opera e como a sociedade se comporta.
Na mesma linha, o Wall Street Journal lembrou também dos retrocessos experimentados nessas três décadas de negociação climática – em particular, o vai-e-vem dos Estados Unidos, economia mais rica do planeta, que negociou e abandonou o Protocolo de Quioto e fez o mesmo com o Acordo de Paris (ainda que o país tenha retornado ao novo regime climático neste ano).
Já Financial Times e Washington Post olharam para o copo meio cheio. O tema climático ganhou mais projeção nos anos desde a assinatura do Acordo de Paris, com peso crescente em debates políticos domésticos na Europa, nos Estados Unidos e até mesmo em outrora bicho-papões do clima, como a China. A dúvida é se, finalmente, o mundo está pronto para começar a corrida contra a crise climática ou se gastará mais tempo com promessas vazias e planos vagos.
Em tempo: Olhando para a frente, os anos 2020 serão o momento-chave para definir o futuro climático da Terra. Na piauí, Bernardo Esteves assinalou como cientistas, analistas, governos e empresas olham 2030 como o prazo final para muitas das mudanças necessárias na contenção da crise climática, como a redução das emissões de metano, o abandono do carvão e de outros combustíveis fósseis, e a expansão da geração de energia renovável. “O que nós faremos nos próximos cinco anos vai determinar o futuro da humanidade no próximo milênio”, disse Sir David King, ex-negociador do Reino Unido e professor de química da Universidade de Cambridge. “Se em Glasgow tivermos o entendimento do nível e da iminência da ameaça à humanidade, aí poderemos ter as respostas políticas adequadas”.
ClimaInfo, 5 de novembro de 2021.
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