Emissões de metano no Brasil: chegou a hora de cortar (n)a carne

Brasil emissões de metano

O país assinou o acordo internacional para reduzir em 30% as emissões de metano até 2030, o que será um desafio interessante. Globalmente, os vazamentos em extração, transporte e processamento de petróleo e gás respondem por boa parte das emissões. Aqui, elas não chegam a 2% do total. Segundo o SEEG, mais de 70% das emissões de metano vêm do nosso rebanho bovino e, portanto, para cumprir sua parte no trato, essas emissões terão que cair. Há três maneiras para que isso aconteça: aumentar a produtividade engordando o gado mais depressa e abatê-lo mais jovem, evitando pelo menos um ano de emissões por animal, como comenta a Agroicone. Também há novos produtos para suplementar a alimentação que, segundo a Investing, parecem reduzir a produção de metano na digestão do animal. E, claro, todo mundo parar de comer (tanta) carne bovina. As duas primeiras dependem de recursos, e pelo tamanho do rebanho, muitos recursos. A mais evidente impacta a receita dos frigoríficos. Vale ver a matéria do Poder 360 e a coluna de Mara Gama no UOL a respeito. Não surpreende que, até o mês passado, o Itamaraty dizia que não assinaria o pacto – nessa época, uma fonte disse ao Valor: “Não vejo por que nós devamos aderir a essa declaração sobre o metano. Não é do nosso interesse”.

O país também pode apoiar a captação de metano de aterros sanitários e das estações de tratamento de esgoto – com a vantagem adicional de usar esse metano para gerar eletricidade ou tocar caminhões e ônibus. Hoje, essas atividades emitem 16% do total.

Em todo caso, o país não está sozinho nesse mar de metano. A Bloomberg conta que o secretário americano John Kerry (não confundir com Jim Carrey) explicou que os países só se comprometeram com uma meta global, mas não com obrigações nem metas específicas. Até ontem, 105 países haviam aderido ao acordo. O Globo , Valor e o Estadão publicaram matérias sobre a responsabilidade da pecuária. O Globo publicou outra matéria com os produtores que não acreditam na redução da demanda. Para o Estadão, os produtores dizem que contam com a ajuda do governo. No Valor, o governo diz não ter sofrido pressão de fora e que a adesão foi totalmente voluntária.

Em tempo: A JBS havia jurado que eliminaria a compra de gado associado ao desmatamento e foi a Glasgow contar vantagem. De fato, já faz algum tempo que seus frigoríficos não compram de fazendas autuadas por desmate e por questões trabalhistas. Só que o problema nunca esteve aí, e sim, na complexa cadeia de compra e venda de gado até chegar na porteira do abatedouro. Segundo ((o))eco, quase 1/3 do total comercializado nos últimos anos no Pará estava irregular. Aliás, nos seus bonitos inventários, a empresa também não se responsabiliza pelas emissões do gado que compra, algo que deveria ser lançado no tal do Escopo 3. Algo parecido com as petroleiras que não se responsabilizam pelas emissões da queima dos produtos que vendem.

 

ClimaInfo, 5 de novembro de 2021.

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