Governo bate cabeça para enfrentar alta do desmatamento na Amazônia

23 de novembro de 2021

Depois de revelar (com três semanas de atraso) a alta de 22% do desmatamento da Amazônia no último período de monitoramento de 12 meses, o governo federal está tentando responder às críticas que se avolumam dentro e fora do Brasil contra o desempenho ambiental da gestão de Jair Bolsonaro. Nesta 3ª feira (23/11), o Conselho da Amazônia realizou uma reunião para discutir os novos dados do sistema PRODES/INPE e organizar alguma resposta oficial à escalada do desmatamento amazônico, coisa que, convenhamos, não é fácil.

O general-vice Hamilton Mourão, que também chefia o Conselho, reconheceu que o governo não foi capaz de integrar o trabalho das Forças Armadas com os órgãos ambientais de fiscalização. “Se você quer um culpado, sou eu. Não consegui fazer a coordenação e a integração da forma que ela funcionasse”, disse Mourão.

Por falar em falta de integração, o Conselho se reuniu em Brasília sem a presença de dois ministros cruciais para qualquer estratégia bem-sucedida de combate ao desmatamento – o do meio ambiente, Joaquim Leite, e o da justiça, Anderson Torres.

Um dia antes, também em Brasília, Pereira Leite participou de uma coletiva de imprensa para fazer um balanço da participação brasileira na Conferência do Clima de Glasgow (COP26). O atraso na divulgação dos dados do PRODES teria acontecido exatamente para evitar que os números preocupantes do desmatamento na Amazônia prejudicassem o esforço de recuperação da imagem internacional do Brasil empreendido durante o encontro na Escócia.

Mais uma vez, o ministro do meio ambiente contestou que tenha sido comunicado sobre o resultado do PRODES antes da COP26, e afirmou que o governo vê os números do desmatamento como “inaceitáveis”. “Vamos ter mais recursos e mais homens. Com certeza seremos muito mais contundentes para eliminar o desmatamento ilegal na Amazônia”, prometeu Leite.

O problema é que está cada vez mais difícil para o governo conseguir alguém que deposite confiança (e, de preferência, dinheiro também) na política de combate ao desmatamento na Amazônia. Com o Fundo Amazônia ainda travado e sem a perspectiva de receber recursos internacionais, Mourão afirmou que o governo estuda a criação de um fundo nacional para projetos de preservação e combate ao desmatamento com recursos de instituições financeiras e empresas. “O Brasil tem plenas condições, com a quantidade, a gama de recursos que existe no mercado brasileiro, de conseguir colocar um fundo dessa natureza em pé e, consequentemente, a gente não ficar dependendo, vamos dizer assim, de dinheiro e recursos de outros países”, disse Mourão, citado pelo Metrópoles.

Correio Braziliense, Estadão, Folha, g1, Metrópoles, O Globo e Valor repercutiram as desculpas de Mourão e Joaquim Leite. O Jornal Nacional divulgou matéria sobre as falas de Mourão, com comentários contundentes e precisos de Adriana Ramos, do ISA, e Tasso Azevedo, do MapBiomas. No exterior, a Sky News também destacou a reação do governo Bolsonaro à alta do desmatamento amazônico.

Em tempo: O PSOL acionou o Ministério Público Federal para apurar a possível omissão por parte do ministro Joaquim Leite na divulgação dos dados sobre o desmatamento do PRODES, que aconteceu quase um mês após a submissão do relatório do INPE ao governo federal. Para o partido, a divulgação atrasada dessas informações, que aconteceu apenas após o encerramento da COP26, configura um ato de “improbidade administrativa”, com suspeita também de “possível prática de crime de prevaricação”. O Globo deu mais detalhes.

 

ClimaInfo, 24 de novembro de 2021.

Clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar