Governo Bolsonaro adiou anúncio sobre alta de desmatamento para maquiar de verde sua imagem na COP26

PRODES

A divulgação dos dados do PRODES sobre o desmatamento na Amazônia, que mostram a explosão da devastação da floresta no último ano, já seria constrangedora por si só – afinal, o aumento de 22% no ritmo de devastação é um atestado de fracasso retumbante. No entanto, para o governo Bolsonaro, constrangimento nunca é demais: para quê se envergonhar só com o fracasso quando você também pode se queimar pela falta de transparência?

O relatório do INPE que confirmou os dados do PRODES é datado de 27 de outubro, anterior portanto à abertura da Conferência do Clima de Glasgow (COP26). O governo Bolsonaro só divulgou a informação no último dia 18, quase uma semana após o encerramento do encontro. Durante a COP, o ministro Joaquim Leite foi inquirido repetidas vezes pela imprensa sobre o atraso na divulgação dos dados do PRODES e se ele já sabia desses números. O chefe do meio ambiente, que também encabeçou a delegação brasileira em Glasgow, assegurou que não tinha conhecimento da informação na época da Conferência.

Fontes consultadas pela Associated Press, no entanto, contestaram a negativa de Leite e reforçaram que o governo sabia dos dados desde antes da COP e optou por escondê-los para não prejudicar o esforço publicitário de Brasília em Glasgow. De acordo com a agência de notícias, a decisão de protelar o anúncio e esconder os dados na COP foi tomada em reunião com o próprio Bolsonaro no Palácio do Planalto. Folha e g1 também repercutiram a informação.

Em coletiva na noite do dia 18, Joaquim Leite voltou a afirmar que desconhecia os dados do INPE à época da COP. “Eu tive contato com o dado hoje, exatamente como vocês devem ter tido acesso”, disse para os jornalistas. Ele também afirmou que o governo deverá agir “de forma contundente contra qualquer crime ambiental”, de maneira a conter o avanço da devastação na Amazônia. Ao mesmo tempo, ele tentou fugir da responsabilidade ao dizer que a alta no desmatamento neste ano “não reflete a atuação do governo nos últimos meses”, jogando a maior parte da culpa nas costas de seu antecessor na pasta. O g1 destacou a negativa do ministro e a reação dele aos dados do INPE.

Outro que negou saber dos dados do INPE com antecedência foi o general-vice Hamilton Mourão, que também chefia o Conselho da Amazônia. Ele também relativizou a destruição registrada na Amazônia. “Sem desfazer dos números, que obviamente não são bons, a gente tem que olhar o tamanho da Amazônia. [Ela] tem 5 milhões de km2. Então, se nós tivemos 13 mil km2 de desmatamento, isso dá 0,23% da Amazônia que teria sido desmatada”, disse Mourão, como se a destruição da floresta tivesse começado em agosto de 2020. Estadão, Folha, g1 e O Globo repercutiram as desculpas esfarrapadas do general-vice.

Em tempo: BBC Brasil e g1 mostraram a repercussão internacional da alta de 22% no desmatamento na Amazônia. Financial Times, Guardian, NY Times e Washington Post deram destaque ao fato do índice ser o maior desde 2006. Já a Reuters observou que esses números devem intensificar a pressão internacional sobre o governo Bolsonaro, especialmente depois de suas promessas de proteção florestal feitas durante a COP26. Associated Press, BBC e Wall Street Journal também destacaram a notícia.

 

ClimaInfo, 22 de novembro de 2021.

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