Sem recursos nem apoio, países africanos são deixados à própria sorte em meio à crise climática

COP26 África Subsaariana

Os resultados da COP26 de Glasgow foram decepcionantes para os países da África Subsaariana, uma das áreas mais pobres e vulneráveis do mundo à crise climática. A falta de avanços efetivos para financiamento climático, adaptação e compensação por perdas e danos, temas caros à região, significou mais um “tapa na cara” das sociedades africanas dado pelos países desenvolvidos.

A situação coloca os países africanos em uma posição delicada. Mesmo sendo aqueles que foram menos responsáveis pela crise climática, estas nações estão sendo cobradas a abandonar fontes fósseis de energia no mesmo ritmo e prazo que as grandes potências. A cobrança cria uma contradição cruel entre ação climática e direito ao desenvolvimento: como garantir que as sociedades mais pobres do mundo tenham acesso à energia sem que isso represente mais emissões de carbono?

Entre os próprios africanos, este questionamento recicla argumentos parecidos com os de países como Brasil, Índia e China em um passado não tão distante. Por um lado, há aqueles que defendem a geração de energia como prioridade para os africanos, menos do que a redução das emissões de carbono. “Os africanos sabem que são vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas e serão os primeiros a sofrer. Mas nenhuma das ambições ousadas dos ativistas climáticos será alcançada sem tirar os africanos da pobreza primeiro”, defendeu Magette Wade, diretora do Africa Center for Prosperity da Atlas Network, no Wall Street Journal.

Por outro lado, há aqueles que entendem que a chave para a resolução dessa contradição está no apoio internacional. Para eles, as condições do clima global não permitem mais priorizar pura e simplesmente a geração de energia, ainda que fóssil, em vez da ação climática. Assim, os governos africanos precisam atuar de maneira mais articulada, em uma voz comum, para ter mais peso em suas cobranças e pressões sobre as grandes potências.

“O mundo precisa de nós para alcançar os desejados cenários climáticos futuros”, escreveu Kaddu Sebunya, CEO da African Wildlife Foundation, no Independent. “É hora de pensar fora da caixa sobre como fazer nossas economias crescerem e usar esta alavanca para proteger nossa infraestrutura natural, ao mesmo tempo em que adotamos novas tecnologias mais limpas que impulsionam o crescimento verde e limpo”.

 

ClimaInfo, 29 de novembro de 2021.

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