Grandes varejistas globais seguem comprando carne produzida em áreas desmatadas ilegalmente no Brasil

15 de dezembro de 2021

Sob pressão crescente de governos, consumidores e investidores, grandes empresas do varejo nos Estados Unidos e na Europa estão sendo cobradas a garantir que os produtos comercializados por suas lojas não tenham qualquer relação com atividades econômicas que resultam em desmatamento e devastação ambiental. Nesse sentido, muitas promessas vêm sendo feitas por essas empresas, mas a realidade prática mostra que elas não estão avançando no cumprimento desses compromissos de sustentabilidade.

Uma análise da Repórter Brasil, em parceria com a organização Mighty Earth, mostrou que gigantes de varejo norte-americanas e europeias, como Lidl, METRO e Sainsbury’s, seguem comprando e comercializando carne bovina produzida em condições suspeitas no Brasil, de fornecedores acusados de crimes ambientais e “lavagem de gado” (venda de gado produzido em propriedades ilegais para fazendas regularizadas antes do repasse para os frigoríficos) na Amazônia, Pantanal e Cerrado. A principal conexão dessas empresas com o desmatamento ilegal está nos grandes frigoríficos do Brasil, como JBS, Minerva e Marfrig, que seguem tropeçando em seus esforços para eliminar fornecedores irregulares de sua cadeia.

Entre as traders, Bunge e Cargill foram os principais alvos de uma análise do governo da França sobre sua responsabilidade com o desmatamento no Brasil. As duas possuem compromissos globais de sustentabilidade, com metas para limpar suas cadeias de fornecimento de qualquer ilegalidade ambiental ao longo desta década. No entanto, o caminho para isso deve ser longo: de acordo com a análise, feita a partir de um banco de dados que contou com a ajuda de entidades como TRASE e Canopee, cerca de 411 mil toneladas das 1,57 milhão de toneladas de soja (e produtos derivados) importados pela França do Brasil em 2018 foram associadas a alto risco de desmatamento. Desse total, a Bunge respondeu por 70% das cargas importadas de alto risco, e a Cargill, 10%. O Financial Times deu mais detalhes.

Em tempo: Enquanto isso, o enviado britânico de comércio para o Brasil, Marco Longhi, afirmou ao Valor que o Reino Unido quer uma abordagem mais cooperativa no diálogo sobre os problemas ambientais da pauta brasileira de exportação. “Em vez de bater no Brasil com um porrete e dizer ‘vocês não deveriam fazer isso, na verdade a floresta não é um ativo brasileiro, mas um ativo global’, é preciso conversar mais com o Brasil, desenvolver mais essa amizade”. Essa postura contrasta com a posição mais dura adotada pela União Europeia e sinalizada por Estados Unidos e China, com planos para restringir a importação de produtos primários associados ao desmatamento.

 

ClimaInfo, 15 de dezembro de 2021.

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