Quando a China espirra, os preços globais da energia ficam com febre alta

China energia

A China é de longe o maior emissor global de gases de efeito estufa, condição devida principalmente à queima de combustíveis fósseis. Só o consumo de carvão não-metalúrgico da China é 5 vezes o consumo total dos EUA e quase 6 vezes o da Índia.

Eventuais oscilações na demanda chinesa, na comparação feita por um um analista entrevistado pela Bloomberg, são como um adulto em um trampolim cheio de crianças – um pequeno salto e a criançada toda cai.

No fundo, essa é a causa do preço do gás natural disparar no 2º semestre do ano passado na Europa. O analista argumenta que, no final  do 1º semestre de 2021, uma tempestade quase perfeita levou o país a ter que comprar muito gás no mercado internacional.

Essa “tempestade” foi a soma da falência de várias minas de carvão na China em 2020, quando a COVID fez a economia e a demanda despencarem. Outro fator a ser somado vem do fato da geração elétrica chinesa ter grande participação de hidrelétricas. Em 2020 choveu muito, o que puxou o preço da eletricidade ainda mais para baixo e ajudou a aumentar as falências na indústria do carvão.

Outro fator, este para além das falências, foi o  inverno rigoroso de 2020-21, que levou à queima ainda maior dos estoques de carvão existentes. Para agravar a situação, a produção de uma das maiores minas do país sofreu uma queda importante. Por conta de todos estes fatores, quando a economia voltou a crescer em 2021, a produção de carvão havia caído 30%.

Para completar a perfeição da tempestade, em setembro um tufão atingiu Hong Kong e a mega-área industrial de Guangdong, quando os estoques de carvão baixaram para o consumo de menos de uma semana.

Esta região, no sul do país, fica muito longe da Mongólia, onde ficam as minas de carvão e, além de não haver sobras, o transporte seria muito caro. Os chineses até buscaram carvão no mercado internacional, mas não havia quantidade suficiente por conta da recuperação das economias da Índia e do Sudeste Asiático. Foi aí que começaram a comprar cargas e cargas de gás natural liquefeito, exatamente na época em que os europeus começam a estocar gás para o inverno. O resultado foi o preço do gás ir para o espaço.

O entrevistado ainda lembra que a construção civil é o motor das emissões chinesas, dado o alto consumo de aço e cimento, exatamente os produtos industriais que mais demandam energia e carvão metalúrgico para sua produção. Para o cumprimento de suas metas climáticas, o país talvez tenha que construir menos.

Este ano, segundo a Reuters, a China pretende acrescentar mais 2.600 GW de capacidade de geração: 1.140 GW de térmicas a carvão e 180 GW de não-fósseis. A diferença são as alimentadas com gás natural.

 

ClimaInfo, 1º de fevereiro de 2022.

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