Para o MME, térmicas a gás fazem bem para o clima e para a água

termelétricas

O Ministério de Minas e Energia soltou uma nota para defender o jabuti de 8 GW de térmicas que entrou na lei da privatização da Eletrobras no ano passado. A nota contesta um artigo de Rodrigo Polito, na MegaWhat, repercutindo a análise da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) na versão de consulta pública do Plano Decenal 2031: “Vale observar que as novas termelétricas a gás natural inflexíveis incluídas pela Lei n. 14.182/2021 […] trarão impacto nas emissões do setor elétrico”.

A EPE emenda dizendo que as emissões do setor continuarão baixas, não levando em conta que caso o desmatamento da Amazônia seja contido, as emissões do setor elétrico passarão a ser muito relevantes.

Polito ainda acrescenta que, por serem quase inflexíveis e de contratação obrigatória pela lei, elas também aumentarão a tarifa.

Quanto às emissões, a nota repete que nossa matriz elétrica é limpa. Faltando ainda os dados de dezembro, as emissões do Sistema Interligado Nacional do ano passado devem ultrapassar a marca de 65 milhões de tCO2e e assumir a ponta da série histórica.

A nota também diz que queimar gás poupa água e, assim, contribui para a melhora do uso múltiplo da água, um argumento no mínimo estranho, posto que uma térmica consome água efetivamente, enquanto uma hidrelétrica simplesmente a deixa passar.

Quanto ao preço elevado das térmicas, vividas por todos nós nos últimos meses, o ministério afirma que as térmicas a gás são “uma importante contribuição para […] a consequente redução dos custos de operação”, sem, claro, explicar o passe de “matemágica” que executou.

A vida de defender o indefensável é dura. O Poder 360 deu destaque à nota.

Por falar em erro de aritmética, o TCU (Tribunal de Contas da União) parece ter descoberto um erro metodológico nas estimativas do valor da Eletrobras. O processo está nas mãos do ministro Vital do Rêgo, quem ainda não fechou seu parecer. Segundo o Valor, alguma coisa aconteceu com a potência das hidrelétricas da empresa que leva a elas valerem menos. O problema é que o valor correto pode elevar o preço da empresa a ponto de aumentar o risco dos investidores não recuperarem seu capital e, assim, inviabilizar o leilão de venda.

Em tempo: O Linhão Manaus-Boa Vista (RR) continua só existindo no papel porque a concessionária Transnorte Energia não acertou o passo com os Waimiri-Atroari. Em setembro, para comemorar os 1.000 dias de (des)governo, Bolsonaro comemorou o ofício que a FUNAI havia enviado ao IBAMA se dizendo satisfeita com as condicionantes. Com o ofício na mão, o IBAMA soltou a Licença de Instalação, que autoriza, em tese, o início das obras. André Borges, no Estadão, conta que o problema é que não combinaram com os muitos “russos”, inclusive com a própria Transnorte. A empresa alega que as condicionantes não existiam quando ela ganhou a obra e a planilha de custos não para de aumentar. O Ministério Público entendeu que tanto a FUNAI quanto o IBAMA não cumpriram o rito, como manda o figurino. Resultado: a Transnorte quer rediscutir a obra com a ANEEL e a Justiça não autoriza o início das obras enquanto os indígenas não ficarem satisfeitos.

 

ClimaInfo, 4 de fevereiro de 2022.

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