Subsídios, subsídios e mais subsídios

eletricidade Amazônia

Quase 80% da eletricidade entregue pelos sistemas isolados na Amazônia é gerada pela queima de diesel (61%) e gás fóssil (18%). Estes sistemas abastecem as vilas e comunidades da Amazônia, para onde é caro esticar fios por grandes distâncias para o abastecimento de poucos consumidores.

Estes sistemas isolados fornecem energia para quase 3 milhões de pessoas e, em 2021, tinham uma capacidade instalada de mais de 740 MW e geraram quase 5 TWh. Juntos, estes sistemas emitiram mais de 1,6 milhões de tCO2e.

Isso significa que a cada MWh gerado emite-se 0,62 tCO2e, enquanto no resto do país, cada MWh emite 0,13 tCO2e, mais de 5 vezes menos.

Renée Pereira, no Estadão, discute a dificuldade em reduzir estas emissões, substituindo o diesel por combinações entre fotovoltaicas com e sem baterias, geradores a biodiesel e térmicas a biomassa. Existem projetos de expansão deste grupo de fontes que hoje responde pelos 20% restantes da energia gerada. Pereira acrescenta que o restante dos consumidores do país pagam parte importante dos fósseis consumidos pelos sistemas isolados. Este ano, a conta deve passar de R$ 10 bilhões.

Vale notar que Boa Vista (RR), com 419 mil habitantes, é a maior cidade e a única capital a não estar conectada ao Sistema Interligado Nacional. O projeto da linha de transmissão está parado esperando a concessionária entrar em acordo com os Waimiri-Atroari.

Subsídios ao carvão: Carlota Aquino e Anton Schwyter do IDEC, lamentam no Estadão a prorrogação dos subsídios à queima do carvão mineral até 2040, que, hoje, se aproxima de R$ 1 bilhão por ano. Sem isso, o setor já teria falido há tempos. O argumento do lobby carvoeiro aumenta em seu discurso o número de famílias que dependem do carvão. O subsídio atual, dividido pelas 10 mil famílias, daria uma ajuda mensal de R$ 7.500 para cada uma. O setor passou a argumentar que precisa desse tempo para modernizar a queima do carvão e implantar equipamentos de captura e armazenamento de carbono (CCS). O problema do carvão do sul é que ele é muito ruim para gerar calor. E o CCS está muito longe de virar realidade. No fundo, a prorrogação do subsídio só serve para os empresários do carvão e para alimentar o lobby no Congresso e Assembleias.

Subsídios às renováveis: O pessoal do IDEC também fala do subsídio às renováveis, que, apesar de parecer simpático, aumenta a desigualdade de renda. O pessoal que tem a capacidade de instalar painéis em seus telhados deixa de pagar, em parte, pela  manutenção do sistema todo. Esse custo acaba caindo desproporcionalmente na conta da camada mais pobre.

Bolsonaro quer subsidiar o diesel dos caminhoneiros: Dois artigos falam do esforço de Bolsonaro para reduzir o preço do diesel e ganhar os votos dos caminhoneiros. Roberto Troster, no Valor, mostra que o bolsa-caminhoneiro de R$ 1.200 sairia mais caro do que manter a distribuição gratuita de absorventes íntimos com impacto social bem menor. Reduzir a carga tributária dos combustíveis é um subsídio que aumenta a desigualdade de renda. A camada mais pobre consome muito menos combustível do que os mais ricos, aqueles que serão beneficiados pelo subsídio.

O artigo de Naercio Menezes, do Insper, também no Valor, fala da extrema importância de o Estado investir em educação e formação da metade da geração que está praticamente fora do mercado de trabalho. Ele termina dizendo: “Mas, quanto custaria para transferir renda suficiente para acabar com a pobreza das crianças brasileiras? Cerca de R$ 80 bilhões. O mesmo que vamos gastar para subsidiar combustíveis fósseis, beneficiando as famílias não-pobres e contribuindo para piorar o meio-ambiente. Estas são as nossas prioridades. Que país é este?”

 

ClimaInfo, 21 de fevereiro de 2022.

Clique aqui para receber em seu e-mail o boletim diário completo do ClimaInfo.