Garimpo, conflitos fundiários e crime organizado intensificam violência na Amazônia

Amazônia violência

O índice nacional de homicídios criado pelo g1 com base em dados oficiais dos 26 estados e do Distrito Federal mostra uma queda de 7% no número de assassinatos no Brasil em 2021. A redução aconteceu em todo o país, exceto nos estados da região Norte, onde as mortes violentas intencionais cresceram 10% no ano passado.

Os motivos, apontados por especialistas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e do Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP) ouvidos pelo g1, são: associação do narcotráfico com crimes ambientais, como grilagem, garimpo ilegal e desmatamento; falta de integração das autoridades estaduais e federais no combate aos crimes na Amazônia Legal; e disputa de territórios entre facções criminosas.

A simbiose entre desmatamento da Amazônia e crime organizado foi elucidada em um estudo lançado ontem (21/2) pelo Instituto Igarapé. A análise detalhada e inédita de 369 operações realizadas pela Polícia Federal entre 2016 e 2021 mostra que o crime ambiental fomenta ou é fomentado por outros crimes como fraude, corrupção e lavagem de dinheiro. A destruição da floresta alimenta, assim, uma cadeia de ilegalidades, que começa pela invasão das Terras Públicas e se estende a fraudes, homicídios e o comércio de armas e drogas, informa O Globo. O podcast Ao Ponto também traz detalhes sobre os achados do estudo.

O estudo conclui que “o combate aos crimes ambientais na Amazônia demanda inteligência e priorização estratégica das instituições e órgãos ligados à fiscalização administrativa e à persecução penal. Há tarefas para o setor público, como estados e governo federal, e também para o setor privado.” Difícil ver tudo isso funcionando no horizonte próximo, a não ser que um governo com políticas para a Amazônia opostas às atuais assuma em 2023.

Em tempo: A operação de combate ao garimpo ilegal Caribe Amazônico, da Polícia Federal, foi acompanhada por Sônia Bridi, do Fantástico, que também ouviu vários especialistas a respeito dos decretos presidenciais que incentivam a atividade. Larissa Rodrigues, do Instituto Escolhas, foi certeira: “A gente analisou todos os municípios da Amazônia legal que foram expostos à extração de ouro e de diamantes e os indicadores socioeconômicos que são importantes como saúde, educação, PIB per capita, não tiveram nenhuma melhora”. Se os planos da PF derem certo, essas operações podem ficar mais frequentes: segundo o Valor, a corporação planeja comprar quatro helicópteros de grande porte para serem usados em operações contra crimes ambientais na Amazônia e estabelecer uma base aérea e logística na região. Atualmente, os cinco helicópteros próprios da PF ficam em Brasília.

Em tempo 2: Ameaçados por posseiros e garimpeiros, os Parakanãs, povo de recente contato do Médio Xingu, concordaram em abrir mão de parte de sua terra homologada em 2007 para tentar proteger suas aldeias. O processo chegou ao STF, onde o ministro Gilmar Mendes autorizou a “conciliação” entre indígenas e invasores. Como se não bastasse a violência que levou a essa decisão, sua execução foi igualmente brutal: os indígenas foram obrigados a cavar a picada de floresta demarcando a divisão de suas terras sob vigilância armada de jagunços, sem alimentação adequada. Mas nada adiantou: o rio está contaminado por mercúrio, os invasores estão perto das aldeias e de agosto de 2020 a julho de 2021, a Apyterewa foi a Terra Indígena mais desmatada do Brasil. Vale a pena ler a reportagem de Fabiano Maisonnave e Bruno Santos na Folha.

 

ClimaInfo, 22 de fevereiro de 2022.

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