A explosão do garimpo e dos casos de violência e abuso contra os Yanomami passou batido pela direção da FUNAI. A entidade – que deveria zelar pela proteção dos direitos dos Povos Indígenas brasileiros, mas que se tornou foco do desmonte socioambiental promovido pelo governo Bolsonaro – afirmou nesta 3ª feira (12/4) que “desconhece” denúncias de abuso sexual contra mulheres e crianças indígenas por parte de garimpeiros na Terra Yanomami. As denúncias foram feitas pela Hutukara Associação Yanomami, que publicou nesta semana um levantamento abrangente sobre o impacto do garimpo ilegal em uma das maiores reservas indígenas do Brasil.
Segundo noticiou o g1, a direção da FUNAI se negou a comentar as denúncias e justificou a explosão da atividade ilegal garimpeira na região à migração de “garimpeiros venezuelanos” no norte do país. Em nota, a entidade também disse que “tem atuado firmemente para resolver [o garimpo na Terra Yanomami” e acusou gestões anteriores pelo problema atual – ainda que nada disso explique por que raios o garimpo cresceu mais de 45% apenas no último ano e mais de 3.350% desde 2016.
Enquanto a FUNAI faz “cara de paisagem”, a violência segue fazendo vítimas na Terra Yanomami. De acordo com o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana, Júnior Hekurari Yanomami, um embate entre indígenas favoráveis e contrários ao garimpo resultou na morte de duas pessoas nesta 2ª feira (11/4) na região do Xitei. O conflito teria sido instigado por garimpeiros ilegais que operam na área: o grupo teria dado 80 armas de fogo para índios aliados na comunidade Tirei para atacar adversários antigarimpo na aldeia Pixanehabi. Associated Press, g1 e O Globo deram mais informações.
A situação calamitosa na Terra Yanomami fez com que o Ministério Público Federal (MPF) reforçasse a cobrança junto ao governo federal para expulsar os garimpeiros da região e proteger a integridade física e os direitos básicos das comunidades indígenas Yanomami. Os procuradores requisitaram à União que continue empreendendo operações de combate ao garimpo e que intensifique os esforços para desmantelar a cadeia logística que permite a continuidade das atividades garimpeiras naquela área. “Asfixiando a logística, operações contínuas de repressão geram desgaste financeiro das organizações criminosas, acabando por inviabilizar economicamente a atividade de mineração ilegal”, defendeu o MPF. Carta Capital, Metrópoles e UOL destacaram a reação do Ministério Público.
Ainda sobre a crise na Terra Yanomami, O Globo deu mais detalhes sobre o relatório da Hutukara, em especial os indícios de que garimpeiros estejam ocupando e utilizando instalações de saúde indígena para estocar gasolina e outros mantimentos para a extração de ouro. Até mesmo uma pista de pouso utilizada pelas equipes de saúde indígena para levar remédios para as comunidades Yanomami está sendo controlada pelos garimpeiros, que restringem qualquer pouso “não-autorizado”.
ClimaInfo, 13 de abril de 2022.
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