As cascas de banana no meio do caminho dos mercados de carbono no Brasil

Mercado carbono CO2
Reset

Neste momento, existem projetos de lei em tramitação no Congresso para criar um mercado de carbono no país. E existe uma intenção declarada do governo de criá-lo por decreto. A diferença mais importante foi apontada por Natalie Unterstell e Caroline Prolo na reset: o foco do governo é “exclusivo na organização da demanda voluntária por emissão de créditos de carbono […] e não de imposição de limites de emissão, o que é necessário para uma efetiva precificação de carbono.” Ou seja, pode até ser bom para o caixa de projetos e do governo, mas contribui pouco para enfrentar a crise climática. Elas também lembram um segundo ponto: neste momento, a Europa ensaia criar uma taxa de importação que reflita o conteúdo de carbono dos produtos. A lógica é que a produção europeia paga um preço pelo que emite. Para manter a competitividade, passarão a taxar os produtos que não tenham pago pelas emissões no país de origem. Ao sinalizar que não fará isso, deixará vulnerável, produtos importantes na nossa pauta de exportação, como o aço e a celulose. Ao colocar as fichas no mercado voluntário, o governo entra numa seara cada dia mais complicada.

Uma investigação da Source Material em parceria com a Unearthed foi atrás do dinheiro pago pelos créditos de carbono. Enquanto se espera que o dinheiro da venda dos créditos chegue ao projeto que os originou, a investigação descobriu que os compradores de créditos de projetos florestais pagaram mais de US$ 30 por crédito enquanto os donos do projeto receberam menos de US$ 3. A investigação foi comentada no Financial Times, que explicou que os intermediários têm um papel importante pela assimetria de informação entre projetos e compradores. Mas que a diferença parece ser um tanto exagerada.

E na ponta dos projetos florestais, outra investigação revelou mais um projeto complicado. Um dos primeiros projetos brasileiros de REDD, o VERRA/CVS, registrado em um dos standards mais conceituados, está baseado em uma área que não era sua. O pessoal da Pública descobriu que o “projeto é realizado em fazendas sobrepostas a reservas extrativistas federais; matrículas dos imóveis estão canceladas há anos e comunidades não recebem recursos da venda”. A matéria procurou os responsáveis, mas não obteve respostas. Fatos como esse minam a credibilidade de todos os projetos desse tipo por aqui. E é neste tipo de projeto que nosso ministro de meio ambiente está colocando todo seu peso e fichas.

 

ClimaInfo, 4 de maio de 2022.

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