“Rei do gás” mobiliza partidos do Centrão para aprovar jabuti de R$ 100 bi no Congresso

Rei do Gás Centrãoduto
Agência Brasil

Tem cheiro de gás fóssil nos gabinetes do Centrão em Brasília – ao menos, figurativamente. André Borges revelou no Estadão como os partidos fisiológicos do Congresso Nacional estão atuando para aprovar um projeto bilionário que favorecerá os interesses do empresário Carlos Suarez, o “rei do gás” no mercado brasileiro. Pela proposta, o governo destinaria R$ 100 bilhões do lucro com a exploração do pré-sal para financiar a construção de uma rede de gasodutos por todo o país. Suarez, ex-sócio da construtora OAS, seria o principal beneficiado, já que suas empresas concentram as autorizações para distribuição de gás no Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

De acordo com a reportagem, o Centrão quer aproveitar a discussão sobre o PL 414/2021, que trata da modernização do setor elétrico no Brasil, para incluir a proposta como um “jabuti” – ou seja, uma emenda que não está diretamente relacionada ao objeto em questão. O problema é que, como quase tudo que esses partidos fazem, a conta não fecha e o prejuízo com o benefício alheio ficará nas mãos dos contribuintes.

A ABRACE, que reúne os principais consumidores de energia e do mercado livre no Brasil, já sinalizou que a proposta, batizada pejorativamente de “Centrãoduto”, representa “um ônus elevado para todos os consumidores de energia, em um desenho ineficiente que cria privilégios para alguns empreendimentos de geração com características muito específicas, em detrimento de um planejamento de contratações baseadas em eficiência e modernização do mercado”.

Os partidos de oposição já anunciaram que questionarão o presidente da Câmara, Arthur Lira, sobre a possibilidade desse jabuti ser de fato inserido na discussão sobre o PL 414. Segundo outra matéria do Estadão, integrantes do Tribunal de Contas da União demonstraram preocupação com o projeto, visto como uma contradição dentro do debate maior sobre transição energética.

Por falar em gás, o Instituto Arayara fez uma série de notificações extrajudiciais pedindo a suspensão da licença ambiental de um empreendimento termelétrico na região da Baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro. O documento assinala irregularidades no processo de licenciamento, bem como a violação de leis municipais, estaduais, federais e internacionais relativas à proteção do meio ambiente.

O projeto, encabeçado pela empresa Karpowership Brasil Ltda., pretende instalar quatro unidades flutuantes de geração térmica a base de gás, uma unidade flutuante de armazenamento e regaseificação de GNL, além de 36 torres temporárias, ancoradas em terra e mar, para transmissão de energia.

Em tempo: Enquanto o Brasil ensaia um casamento com o gás natural fóssil, um estudo da consultoria TransitionZero no Reino Unido mostrou como a visão de que esse combustível serviria como uma “ponte” para a energia renovável não poderia estar mais cega. De acordo com a análise, a volatilidade do mercado e os preços do gás tornam o combustível uma opção mais cara do que simplesmente trocar carvão por fontes como eólica e solar na geração elétrica. Além disso, só na última década, o custo da mudança do carvão para a energia renovável desabou em 99%, o que evidencia como as alternativas verdes ficaram muito mais baratas. Ciclovivo e Guardian destacaram os principais pontos do estudo.

 

ClimaInfo, 11 de maio de 2022.

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