Desmatamento e transição energética desafiam novo governo na Colômbia

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Raul ARBOLEDA AFP

Neste domingo (7/8), Gustavo Petro assumirá o comando da Colômbia com um ambicioso projeto para proteção ambiental e combate à mudança do clima. Entre as propostas apresentadas pelo novo presidente ainda durante a campanha eleitoral, está a suspensão da exploração de petróleo, em linha com o que a ciência vem assinalando há anos como necessário para viabilizar um limite de 1,5ºC para o aquecimento global ainda neste século. No entanto, o cenário encontrado por Petro e sua equipe é bastante desafiador.

Fernanda Simas destacou no Estadão que os ingressos de divisas com a venda de petróleo quase triplicaram no último ano, passando de US$ 461 milhões para US$ 1,2 bilhão. Em termos gerais, não é um montante muito grande, mas ele não é menosprezável. Ao mesmo tempo, brecar a produção de petróleo vai contrariar diretamente os interesses de grandes empresas nacionais e estrangeiras na Colômbia, o que pode respingar em dificuldades políticas para o novo governo logo em seu começo.

Por ora, o novo presidente prometeu que manterá os contratos vigentes, o que garantirá estoques domésticos de gás e petróleo até 2025 e 2028, respectivamente. Se a Colômbia não conseguir dar o salto que pretende nas fontes renováveis, o país periga se transformar em importador de combustíveis ao final desta década.

O novo governo também terá um desafio complicado no que diz respeito ao desmatamento amazônico. Nos últimos quatro anos, o país perdeu pouco mais de 7 mil km2 de floresta, uma área ligeiramente maior que a da cidade de São Paulo, de acordo com dados oficiais. Tal como no Brasil, o governo de Ivan Duque apostou no uso das Forças Armadas para o combate ao desmatamento, mas os resultados foram igualmente decepcionantes.

A futura ministra do meio ambiente, Susana Muhamad, reafirmou à Reuters que a Colômbia pretende cumprir a meta de limitar o desmatamento em 100 mil hectares (cerca de 1 mil km2) anuais até 2025, como parte de um acordo financeiro assinado com Alemanha, Noruega e Reino Unido. No ano passado, o país desmatou cerca de 1,74 mil km2. A AFP destacou os desafios que o governo Petro terá pela frente no combate ao desmatamento.

Em entrevista ao El País, a deputada eleita e ex-coordenadora de áreas protegidas da Colômbia, Julia Miranda, defendeu que a implementação do acordo de paz entre o governo e os antigos guerrilheiros das FARC é um elemento central para o combate ao desmatamento amazônico no país. “O desenvolvimento do campo e a qualidade de vida dos camponeses é a condição para que eles não se prestem a serem atores do desmatamento e de cultivos ilícitos. Para conter o desmatamento, a Colômbia precisa implementar de forma mais decisiva os aspectos mais verdes do acordo de paz”.

 

ClimaInfo, 5 de agosto de 2022.

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