Crise climática e dívida externa, a receita para um desastre fiscal nos países mais pobres

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UNDP

Dois relatórios divulgados nesta semana reforçaram a vulnerabilidade das nações mais pobres à “dobradinha” crise climática e dívida externa. Uma análise do Programa da ONU para o Desenvolvimento (PNUD) assinalou que 54 países em desenvolvimento, que são o lar de mais da metade das pessoas mais pobres do planeta, precisam de auxílio urgente para sua dívida com os países mais ricos.

A intensificação de eventos extremos, como chuvas e secas de alta intensidade, pressiona cada vez mais os orçamentos desses governos, que não têm condição de lidar sozinhos com estes impactos. Para piorar, a instabilidade econômica internacional dos últimos anos, iniciada com a pandemia e piorada há oito meses pela guerra entre Rússia e Ucrânia, contribui para aprofundar a crise fiscal nesses países. De acordo com o PNUD, eles dependem de uma “reestruturação efetiva” de suas dívidas para evitar uma disparada ainda maior dos preços, o aumento da pobreza e a inviabilização de qualquer ação de adaptação e mitigação climática. 

“O alívio da dívida seria uma pequena pílula para os países ricos engolirem, mas o custo da inação é brutal para os mais pobres do mundo. Não podemos nos dar ao luxo de repetir o erro de fornecer pouquíssimo alívio, tarde demais, na gestão do fardo da dívida das economias em desenvolvimento”, comentou Achim Steiner, administrador do PNUD. A AP repercutiu a notícia.

Dentre os países mais pobres e vulneráveis, as pequenas nações insulares são as que mais sofrem com o peso da dívida externa sobre suas finanças para ação climática e combate à pobreza. Um relatório da Rede Europeia sobre Dívida e Desenvolvimento (EURODAD) apontou que 37 países insulares e costeiros, que abrigam cerca de 65 milhões de pessoas, receberam apenas US$ 1,5 bilhão em financiamento climático entre 2016 e 2020. No mesmo período, essas nações pagaram mais de US$ 26,6 bi a seus credores externos – uma proporção de quase 27 dólares pagos a título de dívida externa para cada dólar recebido para ação climática. A Reuters deu mais detalhes.

Em tempo: Pesquisadores da Universidade de Boston (EUA) publicaram uma análise sobre o poder decisório dentro do Fundo Monetário Internacional e a falta de representatividade e de poder das nações mais vulneráveis à crise climática na definição das políticas e práticas da instituição. De acordo com o documento, os países vulneráveis possuem um poder formal “insignificante” mesmo na formulação e na implementação das políticas do FMI voltadas à questão climática. Isso reflete um problema antigo dentro da organização: a desigualdade de forças entre os países mais ricos, que possuem cotas maiores dentro do Fundo, e os mais pobres, que não contribuem tanto, mas que são mais propensos a pegar empréstimos e estão sujeitos às condições impostas pelos parceiros mais abastados.

 

ClimaInfo, 13 de outubro de 2022.

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