Os empresários “verdes” que financiaram a campanha do ex-ministro “boiadeiro”

empresários verdes apoio Salles
Bruno Kelly/Amazônia Real

Desmatamento e queimadas em alta, fiscalização em baixa, desmonte da política ambiental, encrencas com a Justiça. A ficha corrida do ex-ministro do meio ambiente do governo Bolsonaro é vastíssima – e, sozinha, deveria convencer qualquer empresário que se diz favorável ao meio ambiente a ficar longe, bem longe, desse sujeito em uma campanha eleitoral. Infelizmente, não foi o que aconteceu nesta eleição.

O Repórter Brasil revelou que, entre os financiadores de sua vitoriosa campanha para a Câmara dos Deputados em São Paulo, estão nomes que, ao menos publicamente, se posicionam a favor da proteção do meio ambiente.

Um exemplo é o empresário Marcos Ermírio de Moraes, da “dinastia” que fundou e comanda até hoje o Grupo Votorantim: ele doou R$ 250 mil ao ex-ministro de Bolsonaro, uma das maiores doações individuais da campanha. Publicamente, a Votorantim é um grupo com envolvimento longo em causas socioambientais, aderiu ao Pacto Global da ONU e tem uma de suas empresas como membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.

Outro financiador graúdo do “boiadeiro” do governo Bolsonaro foi José Salim Mattar Jr., dono da Localiza, a maior locadora de veículos do Brasil. Ele também doou ¼ de milhão de reais à campanha, embora sua empresa se coloque publicamente preocupada com a crise climática, inclusive com um projeto voltado para neutralizar as emissões de carbono de sua frota.

A reportagem lembrou que o ex-ministro encontrou “amigos do peito” principalmente na construção civil: dos 56 doadores individuais da campanha dele, 28 atuam nesse segmento e contribuíram com quase R$ 375 mil. Curiosamente, tanto em sua passagem pelo governo federal como em sua curta gestão na secretaria de meio ambiente do governo de São Paulo na década passada, ele ficou conhecido por favorecer os interesses econômicos desse setor, atropelando regras referentes à proteção de Áreas Protegidas.

Agora eleito, o ex-ministro estaria pressionando o comando de seu partido, o PL de Bolsonaro, pela presidência de uma comissão importante na próxima legislatura da Câmara dos Deputados. De acordo com a Folha, ele pleiteia o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais nobre da Casa, ou da Comissão de Meio Ambiente.

Nunca é tarde para lembrar: esse sujeito segue sendo investigado na Justiça por envolvimento em um esquema de venda de madeira amazônica de origem ilegal para o mercado dos Estados Unidos. Por conta disso, ele foi forçado a renunciar ao posto de ministro do meio ambiente em maio do ano passado, para escapar de um possível pedido de prisão no STF. Pois é.

Em tempo: A desinformação bolsonarista sobre o desmatamento na Amazônia mostrou que a questão climática chegou ao centro do debate eleitoral no Brasil, ainda que de maneira distorcida e mentirosa. O problema é que, para parte do eleitorado, essas mentiras estão colando e o resultado prático disso pode ser desastroso para o futuro do Brasil, ainda que esses eleitores não tenham consciência disso. “Com que país o mundo terá que lidar a partir de 2023? A nação com nome de árvore de sangue vermelho e de madeira nobre ou aquela que lembra uma antiga commodity extinta pelo uso insustentável? Um país que já provou ser possível enfrentar o desmatamento e pode liderar esta agenda em nível global, ou uma terra voltada ao passado de sua selvageria desmatadora?”, questionou Cinthia Leone no UOL. Com a palavra, os eleitores brasileiros.

 

ClimaInfo, 21 de outubro de 2022.

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