Omissão e descaso do governo Bolsonaro geram conflitos internos em Terras Indígenas

governo Bolsonaro conflitos Terras Indígenas
Lalo de Almeida/Folhapress

O clima conflagrado que caracteriza a vida pública no Brasil nos últimos anos se reflete de forma dramática no interior do país, nas áreas onde o poder público inexiste e a lei do mais forte é a que vale. Na Amazônia, isso adquire uma clareza que assusta – e nem mesmo os Povos Indígenas escapam do radicalismo.

Um caso representativo, destacado por Vinicius Sassine e Lalo de Almeida na Folha, está na Terra Boará/Boarazinho, no Amazonas. Desde 2016, a Justiça cobra a demarcação do território pela FUNAI, o que não vem sendo atendido. A omissão do poder público deixa os invasores cada vez mais audaciosos, adentrando nas Reservas e criando conflitos internos nas comunidades indígenas. Alguns se aliaram aos invasores, atraídos pelo discurso de riqueza fácil oferecido pela exploração ilegal de riquezas naturais, mesmo que contrariando os interesses do restante da aldeia ou de outras comunidades indígenas locais. O resultado? Brigas, violência, promessas de vingança e morte.

Já na Terra Baú, no sul do Pará, as aldeias tiveram que recorrer a um acordo escrito para alinhar todas as famílias contra o garimpo e a retirada de madeira – tudo para evitar conflitos. O acordo foi assinado no final de setembro por representantes das principais comunidades; no entanto, de acordo com a Folha, a expectativa é de que sua implementação seja bastante difícil, tanto pela persistência de invasores quanto pela dificuldade do governo federal em retirá-los do território e mantê-los fora dele.

O cenário é mais desanimador na Terra Boca do Mucura, no médio rio Solimões. Aqui, a Justiça também determinou à FUNAI a demarcação do território em 2016, o que não ocorreu até agora. Sem fiscalização, os invasores estão fazendo a festa e expulsando as famílias indígenas. Em algumas aldeias, o cenário é de “cidade fantasma”, com cabanas e estruturas abandonadas pelos indígenas. “A gente se sente abandonado, mas só saio quando morrer”, lamentou o Tuxaua (cacique) Franciney Silva de Lima à Folha. “Tento chamar as pessoas para voltar. ‘Vamos para o Mucura’. Por enquanto, elas dizem que não vêm”.

Em tempo: A volta das balsas de garimpo no Madeira está criando sérios problemas para as empresas transportadoras que utilizam o rio para transportar mercadorias. Segundo A Crítica, os garimpeiros estão ameaçando a segurança das embarcações regulares que fazem as rotas para os municípios do Madeira, e também entre Porto Velho (RO) e Manaus (AM), em retaliação às ações da Polícia Federal para desmobilizar a retirada ilegal de ouro do rio. “É mais um problema grave e urgente que temos que enfrentar diariamente porque as ameaças estão cada vez mais constantes e além das vidas envolvidas, ainda há o risco de um acidente ambiental irreversível de grandes proporções caso eles resolvam atacar uma embarcação com milhões de litros de combustível, como já ameaçaram repetidas vezes”, alertou Madson Nóbrega, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial do Amazonas (SINDARMA).

 

ClimaInfo, 24 de outubro de 2022.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.