Fragilidade institucional e falta de políticas locais dificultam combate a incêndios em fronteira tríplice amazônica

incêndios florestais MAP
Acervo dos pesquisadores

Um artigo publicado no International Journal of Disaster Risk Reduction aponta vulnerabilidades organizacionais, socioculturais e políticas como as principais barreiras para uma boa governança contra incêndios florestais na fronteira trinacional do sudoeste da Amazônia. A região, conhecida como MAP, engloba os estados/departamentos de Madre de Dios, no Peru; Acre, no Brasil; e Pando, na Bolívia.

A pesquisa, elaborada pelo Projeto MAP-Fire, foi feita por meio de um questionário virtual, aplicado entre 2020 e 2021, durante a pandemia de COVID-19, a 111 gestores públicos, cientistas e representantes de ONGs da região. Entre os problemas políticos e organizacionais, os entrevistados apontaram o número insuficiente de servidores(as) e pessoal; recursos financeiros limitados; desregulamentação da legislação ambiental; e influência política no funcionamento das organizações públicas e privadas.

No que diz respeito às vulnerabilidades socioculturais, os colaboradores do estudo listaram as instabilidades de políticas públicas nacionais e locais como uma falha na governança, informa a Folha. Para eles, as ações no combate a incêndios na região espelham propostas de medidas nacionais, sem observar as peculiaridades da região. Eles ainda chamaram atenção para a falta de participação da comunidade e para aspectos socioculturais do uso do fogo, principalmente em zonas de pastagem e agricultura próximas a áreas de preservação ambiental.

“Morando no Acre, temos pouco ou nenhum protagonismo, principalmente quando se fala de meio ambiente. Vemos cientistas de outras regiões e até de outros países falando da Amazônia, chamando a atenção para o tema, mas nós, que moramos aqui, ficamos fora dessa governança”, pontuou a socióloga Gleiciane Pismel, colaboradora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) e uma das autoras do estudo.

O levantamento ainda mostra que 60% dos entrevistados consideram o desmatamento como a principal causa dos incêndios florestais na Amazônia. Em seguida, vem o uso do fogo na gestão agrícola (58%) e as secas (39%), destaca a Agência FAPESP.”Há um número muito limitado de pesquisas que avaliam a governança, especificamente associada às queimadas, um tema crescente, emergente e urgente que a Amazônia vem enfrentando. Nesse sentido, buscamos reunir uma equipe multidisciplinar e transfronteiriça para analisar a questão”, explica Liana Anderson, pesquisadora do CEMADEN e também autora do artigo.

ClimaInfo, 29 de março de 2023.

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