Sob a calamidade das enchentes, Acre escancara o racismo ambiental

29 de março de 2023
chuvas extremas rio Acre
Cedida por Juan Vicent Diaz ao Amazônia Real

As águas não param de subir no Acre, após quase uma semana com o estado sendo castigado por chuvas extremas. Na terça-feira (28/3), o rio Acre, que banha a capital Rio Branco, subiu 16 centímetros e atingiu 17 metros, 3 metros acima da cota de transbordo. A cidade, de acordo com o g1, somava mais de 3,5 mil desabrigados, com 37 bairros atingidos. O total de atingidos na capital acreana superava 40 mil pessoas até a manhã de quarta-feira (29/3), informa o AC 24 horas.

Além dessa tragédia, as tempestades sobre o Acre escancararam um problema recorrente no Brasil, de norte a sul: o racismo ambiental. As inundações atingem diretamente a população de bairros periféricos e comunidades ribeirinhas de Rio Branco, ressalta o Amazônia Real. Os problemas históricos de falta de habitação e assistência social na região amazônica persistem, e a situação de desamparo se agrava com a crise climática.

O site cita a família de Gean e Janaína Santos e seus dois filhos. Os quatro moram no bairro Raimundo Melo, em Rio Branco, há mais de 30 anos e convivem desde então com o drama das enchentes. “A casa ficou quase 60% debaixo d’água. Começamos a suspender as coisas até onde deu, acreditando que a água não ia passar da porta, mas nos pegou de surpresa. O que vamos tentar salvar é os colchões que não temos como fazer esse investimento agora, perdemos tudo o que tínhamos e nós nunca esperamos que algo acontecesse nessa proporção”, contou Janaína sobre a inundação deste ano.

Há pouco mais de uma semana, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, ressaltou à TV Cultura a necessidade de uma articulação multissetorial para atacar o racismo ambiental. “Precisamos entender que [sobre] as pessoas indígenas ou da periferia que moram nas margens, ninguém está lá por opção. Todas essas pessoas precisam ter condições suficientes para viver bem e morar bem. O racismo ambiental, assim como o racismo estrutural está muito presente na nossa sociedade. Nós protegemos o meio ambiente e somos os primeiros a serem afetados pelas mudanças climáticas, é preciso um olhar que já está sendo conversado com outros ministérios”.

A visão é reiterada pela secretária municipal de Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, Tainá de Paula, arquiteta e eleita vereadora pelo PT em 2020. Nascida em uma favela carioca, ela disse que as discussões sobre sustentabilidade não chegam à sua comunidade. “Trinta anos se passaram e água ainda é um tema muito forte na favela de onde eu vim. Temos índices de precipitações talvez dos maiores da América Latina e ainda não tem uma discussão mais ampla sobre isso”, disse à Folha. A chave do problema é, como já dito, o racismo, que se traduz em falta de investimentos em áreas periféricas.

Em artigo no Jota, Guilherme Lobo Pecoral e JP Amaral, do Instituto Alana, chamam atenção para um lado ainda mais cruel do racismo ambiental: o descaso com crianças e adolescentes.“Junto aos segmentos mais afetados pelas mudanças climáticas, estão, de forma especialmente grave, as crianças e os adolescentes, sobretudo os que vivem no Sul Global”, como destaca o Legal Policy Brief, do Instituto Alana. O relatório “A crise climática é uma crise dos direitos da criança”, do UNICEF, por sua vez, avalia que cerca de 1 bilhão deles – quase metade dos 2,2 bilhões de meninas e meninos do mundo – vivem em um dos 33 países classificados como de “risco extremamente elevado”, detalham.

ClimaInfo, 30 de março de 2023.

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