China e Estados Unidos disputam lítio da América do Sul

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Reprodução Financial Times Vídeo

A eletrificação do setor de transportes, apontada como a principal saída para substituição dos combustíveis fósseis nesse segmento, depende do lítio, usado em baterias. E mais da metade das reservas globais conhecidas do “ouro branco” – como esse metal já vem chamado – concentram-se em três países da América do Sul: Bolívia, Argentina e Chile. Tal “dádiva” coloca o “Triângulo do lítio” no foco da disputa geopolítica entre China e Estados Unidos.

A China controla cerca de 60% do processamento global de lítio, de acordo com o Financial Times. Com o crescimento das vendas de carros elétricos, a demanda pelo mineral também vem aumentando. Por isso, Europa e Estados Unidos estão fazendo movimentos para reduzir o poder chinês sobre a cadeia de suprimentos de lítio. Mas a tarefa não será fácil, reforça o FT.

“As principais potências estão lutando para obter os minerais necessários para a transição energética e a América Latina é um importante campo de batalha. Os Estados Unidos chegaram atrasados ​​à festa e Washington está claramente ansioso pela vantagem inicial da China”, explicou Benjamin Gedan, diretor do Programa América Latina do centro de estudos Wilson Center, à BBC.

Há anos empresas chinesas estão procurando lugares para explorar o metal em diferentes partes do mundo, principalmente na América Latina. Enquanto avançam na América do Sul com gigantescos investimentos em mineração, os países do triângulo pretendem aproveitar a tecnologia e o capital dessas companhias para promover o desenvolvimento industrial local, informa a Folha.

A Bolívia, detentora das maiores reservas mundiais, propõe a criação de uma “OPEP do lítio”, nos moldes da entidade que reúne grandes produtores de petróleo, lembra o Valor. “Não queremos que nosso lítio esteja sob os olhos do Comando Sul (dos Estados Unidos) ou seja motivo de desestabilização de governos eleitos democraticamente ou assédio externo”, disse o presidente boliviano, Luiz Arce. Foi uma resposta à fala da chefe do Comando Sul, Laura Richardson, que se referiu ao “triângulo do lítio” como questão de “segurança nacional” de seu país.

Entretanto, o lítio que governantes sul-americanos veem como chave de desenvolvimento econômico é condenado pelo poder destruidor de sua extração, destaca o Colabora. Segundo a ativista do Povo Indígena Diaguita, da Argentina, Lourdes Albornoz, “uma bicicleta elétrica ou um carro com bateria de lítio é produzida com o sangue de nossos pássaros sagrados, de nossas comunidades”.

Mesmo com esse impacto ambiental, os investimentos na exploração do “ouro branco” não param. A montadora GM está colocando US$ 450 milhões na startup de mineração de lítio EnergyX, empresa sediada no Texas e em Porto Rico que opera na Argentina, Bolívia e Chile, informa o InsideEVs. No Brasil, a canadense Sigma Lithium anunciou o início da produção e do beneficiamento do mineral no norte de Minas Gerais, segundo o Valor.

O movimento também se reflete no preço do metal. Após ter caído mais de dois terços em apenas cinco meses, o valor do lítio no mercado começa a se recuperar, destacam Bloomberg e Oilprice. Estoques escassos e melhores perspectivas para baterias e vendas de veículos elétricos sugerem que a demanda pode estar aquecendo.

ClimaInfo, 18 de abril de 2023.

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