Sucateamento da indústria petroleira cria ameaça ambiental na Venezuela

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Sadra Company/WANA

Mais da metade da frota de 22 petroleiros da estatal venezuelana PDVSA viraram latas velhas e deveriam ser reparados imediatamente ou retirados de circulação, sob risco de causarem graves vazamentos de petróleo. É o que aponta um relatório interno da companhia, ao qual a Reuters teve acesso exclusivo.

Intitulado “Deficiências e riscos críticos da frota de petroleiros da PDV Marina [braço de transporte da PDVSA]”, o documento afirma que anos de manutenção precária deixaram toda a frota com “baixos níveis de confiabilidade”, com risco de derramamentos, naufrágios, incêndios, colisões ou inundações. “Os navios atualmente carecem de classificação de navegabilidade e certificações por nações de bandeira”, diz o relatório.

A deterioração da frota forçou a PDVSA a fretar navios-tanque para transportar o petróleo que produz. O combustível fóssil fornece a maior parte da moeda forte da Venezuela, disse a análise da divisão comercial da PDVSA.

Um alerta sobre derramamentos de óleo vem do Iêmen. Segundo a Reuters, a ONU não conseguiu obter o dinheiro necessário para retirar 1,1 milhão de barris de óleo do petroleiro Safer [nome que mais parece deboche], abandonado na costa daquele país. Até o momento, foram obtidos US$ 99 milhões dos US$ 129 milhões necessários para a operação. Pelos cálculos da ONU, o Safer pode derramar quatro vezes mais óleo do que a tragédia do Exxon Valdez em 1989, no Alasca.

Voltando à América do Sul, na Guiana – que virou o novo “Eldorado do petróleo” do continente e motiva a Petrobras a apostar em combustíveis fósseis na área da foz do Amazonas –, a Justiça apontou uma violação da gigante do petróleo ExxonMobil nas obrigações de seguro de seu primeiro projeto de produção no país. Segundo o tribunal, a violação foi possível graças a erros do regulador ambiental.

A Exxon “se envolveu em uma tentativa hipócrita” de diluir suas obrigações sob sua licença ambiental para Liza One, o projeto que inaugurou a produção de petróleo da Guiana em 2019, disse o juiz Sandil Kissoon do Supremo Tribunal na decisão. Pela decisão de Kissoon, a Exxon deve fornecer às autoridades da Guiana um acordo de responsabilidade de uma companhia de seguros até 10 de junho, ou a licença ambiental de Liza One será suspensa. O acordo cobriria danos potenciais de incidentes, incluindo derramamentos, explica a Reuters.

Em tempo 1: A busca por combustíveis fósseis em territórios sensíveis não se restringe ao sul da América. Usando a guerra da Ucrânia como justificativa, a Noruega – quem tem um forte discurso pró-energia renovável – quer garantir a posição de maior fornecedora de gás fóssil da Europa. Para isso, o país nórdico revive planos de explorar óleo e gás no Ártico, de acordo com a Bloomberg, no melhor estilo “faça o que digo, mas não faça o que eu quero fazer”.

Em tempo 2: Enquanto os custos socioambientais da exploração fóssil não entrarem na conta, petróleo e gás vão continuar transformando ricos em megarricos. Após ExxonMobil, bp e Chevron reportarem lucros fantásticos de janeiro a março, agora foi a vez da Shell. A companhia fechou o primeiro trimestre com lucro líquido de US$ 9,65 bilhões, informa o New York Times.

ClimaInfo, 5 de maio de 2023.

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