Subida da temperatura dos oceanos causa preocupação em cientistas

aquecimento dos oceanos
Kerem Yücel/AFP

Mesmo cientistas experientes no monitoramento da temperatura dos oceanos terrestres estão coçando a cabeça para entender um movimento recente nos termômetros. A temperatura média marinha vem registrando sucessivas altas desde o começo de março, o que resultou em recorde histórico de calor no mês de abril.

Nos últimos dois meses, a temperatura média global da superfície do mar aumentou quase 0,2oC, atingindo o recorde de 21,1oC em abril passado, 0,1oC acima do registrado em março de 2016, que figurava no topo da lista dos meses mais quentes nos oceanos. Como Nicola Jones escreveu na Nature, a alta na temperatura do mar não é exatamente uma surpresa, já que está em linha com o que os modelos climáticos apontam em decorrência da mudança do clima. O que causa curiosidade é o momento em que essa alta ocorre – antes da ocorrência do fenômeno El Niño, e não durante.

“Isso significa que as temperaturas oceânicas mais quentes do que a média provavelmente persistirão ou até se intensificarão, trazendo consigo clima mais extremo e ondas de calor marinhas, que representam problemas para a vida marinha, de corais a baleias”, assinalou.

Ou seja, considerando a previsão de que teremos El Niño a partir do 2º semestre de 2023, os cientistas já esperam por recordes de calor na temperatura marinha para os próximos 12 meses. “Provavelmente estamos olhando para uma série de recordes no próximo ano. O ano que vem será um passeio selvagem se o El Niño realmente acontcer”, observou Josh Willis, oceanógrafo da Agência Espacial dos EUA (NASA).

O motivo pelo qual os oceanos estão mais quentes antes mesmo do El Niño ainda é um mistério. O g1 destacou a ocorrência recente de ondas de calor marinho em outras áreas não influenciadas pelo fenômeno climático do Pacífico central, como no litoral mediterrâneo da Espanha. “Este é um padrão incomum, um evento extremo em escala global em áreas que não se encaixam apenas como inflenciadas pelo El Niño”, afirmou Gabe Vecchi, climatologista da Universidade de Princeton (EUA).

Mas o aquecimento recente dos oceanos indica o quanto a mudança do clima está interferindo nas dinâmicas naturais do ambiente marinho, com efeitos potencialmente desastrosos para as espécies que vivem no mar. “A capacidade de retenção de calor do oceano é gigantesca. O oceano capta mais de 90% do desequilíbrio de energia que estamos criando devido às mudanças climáticas antropogênicas”, explicou Paul Durack, pesquisador do Laboratório Nacional Lawrence Livermore do Departamento de Energia dos EUA, ao Guardian.

“As mudanças nas temperaturas da superfície do mar não parecem excessivas. Mas isso fica evidente quando expresso como energia adicionada ao sistema que inclui nosso oceano e atmosfera – 40 zettajoules, ou sextilhões de joules. Isso é o equivalente a centenas de milhões de bombas atômicas. É a energia que fica presa no sistema por uma concentração crescente de gases de efeito estufa”, escreveu F. D. Flam, colunista da Bloomberg.

ClimaInfo, 18 de maio de 2023.

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