Ofensiva antiambiental do Congresso preocupa investidores internacionais

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Fernanda Frazão / Agência Brasil

Como já se esperava, a sanha “boiadeira” do Centrão e dos ruralistas no Congresso contra o Ministério do Meio Ambiente (MMA) deixou investidores internacionais mais ressabiados com o Brasil. Depois de se animarem com o discurso pró-ativo do governo federal nessas áreas, após quatro anos de desmonte e devastação, agora estão preocupados com a possibilidade do Legislativo barrar esses esforços.

Na Folha, Alexa Salomão conversou com investidores e analistas sobre a situação, especialmente sobre a ofensiva do Congresso contra o MMA e sua ministra, Marina Silva. Vista como símbolo das pretensões do novo governo na retomada da proteção ambiental, a ministra tem sido alvo de ataques, inclusive dentro do próprio governo, depois do IBAMA vetar um poço de exploração de petróleo no litoral do Amapá.

“Fragilizar Marina é dar munição a quem se opõe ao acordo Mercosul-União Europeia, colocar em risco contribuições de outros países para o Fundo Amazônia, piorar a imagem da marca Brasil e comprometer investimentos de fundos, empresas e cadeias de fornecedores”, destacou Eduardo Felipe Matias, advogado e especialista em direito internacional.

O prejuízo potencial à imagem internacional do Brasil também foi apontado pelos ex-ministros das Relações Exteriores Celso Lafer e Rubens Ricupero em artigo publicado no jornal O Globo. “O enfraquecimento do MMA tramado no Congresso suprime no nascedouro a esperança de que o Brasil se torne uma economia verde, acabe com o desmatamento e receba do mundo reconhecimento sob a forma de investimentos e comércio”, argumentaram.

Já o professor Pedro Roberto Jacobi, do Instituto de Energia e Ambiente da USP, ressaltou à Deutsche Welle que uma possível saída de Marina Silva do MMA, em virtude dos ataques sofridos nos últimos dias, seria um “desastre internacional” para o governo, já que atingiria em cheio suas pretensões de política externa e de atração de investimentos e recursos ao país.

“Houve todas essas promessas ambientais, e ela [Marina] é a pessoa que está ancorando, legitimando isso. Quem é Alexandre Silveira [ministro de Minas e Energia] em termos internacionais? Mas quem é a Marina, já sabemos. É alguém que tem uma história que vai desde a época do Chico Mendes. Tem todo um reconhecimento”, disse Jacobi.

Enquanto isso, em Brasília, Marina reiterou que pretende trabalhar junto aos parlamentares para explicar a importância de manter a estrutura do governo federal para o meio ambiente da forma como ela foi definida no começo da gestão e os riscos que mudanças impensadas podem causar aos esforços internacionais do Brasil.

“Em uma democracia, nós dialogamos. Eu estou preparada para o diálogo. (…) A política ambiental e a proteção dos Povos Indígenas estão no coração do governo. Por isso, vamos trabalhar no diálogo para, até a votação, recompor determinadas pautas e estruturas”, disse a ministra na última 6ª feira (26/5), depois de participar de reunião no Palácio do Planalto.

Em entrevista à CNN Brasil, a ministra do Meio Ambiente reiterou que não pretende deixar o governo, mas reconheceu que a situação política do Executivo no Congresso Nacional é difícil. “Infelizmente, temos uma situação delicada no Congresso, em que há uma maioria de parlamentares que gostaria de reeditar a estrutura e políticas do governo anterior, e o governo está lutando muito fortemente para manter o seu programa, aquilo que foi a decisão soberana da sociedade”, afirmou.

Estadão, g1, Metrópoles, Poder360, O Globo, TV Cultura, UOL e Valor abordaram a reunião de ministros no Palácio do Planalto e a entrevista de Marina. Já o Guardian destacou a repercussão da crise política no exterior.

ClimaInfo, 29 de maio de 2023.

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