Campanha global pede o fim da exploração de combustíveis fósseis

28 de junho de 2023
Usina a carvão Janschwalde, na Alemanha Crédito: Wirestock

Eventos e marchas em diversos países são previstos para setembro. Objetivo é pressionar indústrias e governos por ações concretas para acabar com extração e queima de carvão, petróleo e gás.

Organizações globais lançaram, em junho, uma campanha internacional para demandar o fim gradual dos combustíveis fósseis. Chamada de “Global Fight to End Fossil Fuels“, a mobilização culminará em eventos e marchas em diversos países, de 16 a 17 de setembro, para pressionar indústrias e governos por um plano e ações imediatas para abandonar o carvão, petróleo e gás.

A data foi estabelecida de acordo com a Cúpula de Ambições Climáticas do Secretário-Geral das Nações Unidas, que irá reunir líderes mundiais em Nova Iorque no dia 17 de setembro. Neste mesmo dia, pretende-se realizar a Marcha para O Fim de Novos Combustíveis Fósseis e uma greve climática global, articulada conjuntamente com o movimento Fridays for Future.

A iniciativa acontece em meio a um momento emblemático na agenda socioambiental internacional: a próxima Conferência das Partes (COP 28) será sediada nos Emirados Árabes Unidos, que planeja expandir sua extração de fósseis nos próximos anos, e presidida por Sultan Al-Jabe, um dos líderes da indústria petrolífera. 

O cenário vai na contramão das recomendações científicas que mostram como o uso de carvão, petróleo e gás agrava o aquecimento global e também prejudica a saúde da população – a poluição é responsável por aproximadamente 9 milhões de mortes por ano, correspondendo a uma em cada seis mortes no mundo.

Mas nada disso parece importar para as cinco grandes petrolíferas mundiais (Total Energies, ExxonMobil, Chevron, BP e Shell) que, só em 2022, somaram US$ 200 bilhões de lucros. Elas não estão pagando pelo alto impacto que causam no planeta. São as populações do Sul Global que arcam com o alto preço das consequências das mudanças climáticas pelas quais não são responsáveis.

Por isso, o movimento Global Fight to End Fossil Fuels elenca seis principais demandas para ocorrer uma transição justa do carvão, petróleo e gás: 

  • Sem novos combustíveis fósseis, sem novos financiamentos públicos ou privados, sem novas aprovações, licenças, autorizações ou extensões. Cobra-se a provisão de financiamento climático consensual suficiente para realizar esse compromisso em todos os lugares.
  • Uma eliminação gradual, rápida, justa e equitativa da infraestrutura existente de acordo com o limite de temperatura de 1,5°C e um plano global, como um Tratado de Combustíveis Fósseis, para garantir que cada país faça sua parte.
  • Novos compromissos de cooperação internacional para aumentar drasticamente as transferências financeiras e de tecnologia para garantir o acesso à energia renovável, planos de diversificação econômica e processos de transição justa para que todos os países e comunidades possam eliminar gradualmente os combustíveis fósseis.
  • Fim do greenwashing e de afirmar que compensações são as soluções para a crise climática.
  • Responsabilização dos poluidores pelos danos que causaram, garantindo que as empresas de carvão, petróleo e gás paguem reparações pelas perdas e danos climáticos e pela reabilitação, remediação e transição locais.
  • Acabar com a captura corporativa de combustíveis fósseis. Não às corporações que escrevem as regras da ação climática, financiam negociações climáticas ou minam a resposta global às mudanças climáticas.

No Brasil, o fóssil também avança

Embora a matriz elétrica brasileira seja majoritariamente composta por fontes renováveis, projetos que impulsionam os combustíveis fósseis estão a todo vapor.  

Um exemplo aconteceu em 2021, quando houve a contratação de 14 térmicas a gás fóssil em um leilão emergencial; e a aprovação da lei de privatização da Eletrobrás, naquele mesmo ano, com a inclusão de alguns ‘jabutis’ – entre eles, o do gás, que obriga o país a contratar 8 GW de usinas termelétricas nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.

Entidades nacionais têm se mobilizado para enfrentar o problema, como a Coalizão Energia Limpa, que objetiva excluir o uso do gás fóssil do mix de fontes de energia para a geração de eletricidade no Brasil até 2050, e agrupa seis organizações: Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), Instituto Internacional Arayara, Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e Instituto ClimaInfo.

Além disso, o lobby empresarial e político para explorar petróleo e gás na Margem Equatorial, na Foz do Amazonas, é cada vez mais intenso. O Ibama negou a licença para um bloco específico, mas recentemente até o BNDES defendeu a exploração e a falaciosa sentença de que isso seria essencial para a ‘transição energética’ do Brasil.

Texto: Bárbara Poerner, ClimaInfo

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar