Enquanto os países em desenvolvimento cobram mais recursos das nações industrializadas para combater a mudança do clima, o berço da Revolução Industrial que precipitou a crise climática contemporânea tenta ir no sentido contrário – de diminuir os compromissos financeiros para mitigação, adaptação e perdas e danos associados ao clima no mundo mais pobre. O fujão potencial é o Reino Unido, anfitrião das negociações climáticas da ONU entre 2021 e 2022 e sede da COP26 de Glasgow há quase dois anos.
O Guardian teve acesso a um memorando interno do governo britânico no qual sugere o abandono do compromisso firmado pelo então primeiro-ministro Boris Johnson de ampliar o financiamento climático e ajudar a cumprir a meta coletiva de US$ 100 bilhões anuais prometida pelos países desenvolvidos em 2009. O texto justifica a medida pelos efeitos da pandemia de COVID-19 na economia britânica e da guerra entre Rússia e Ucrânia no leste europeu.
Segundo o texto, a promessa de doar 11,6 bilhões de libras esterlinas (cerca de R$ 71,49 bilhões) para ação climática até 2026 comprometeria mais de 80% do orçamento britânico para assistência ao desenvolvimento internacional, o que afetaria o apoio de Londres a projetos de outras naturezas, como crises humanitárias e proteção dos direitos de mulheres e crianças.
Um porta-voz de Sunak refutou a reportagem do Guardian e afirmou que o governo britânico não pretende alterar ou enfraquecer seus compromissos climáticos internacionais. Ainda assim, o vazamento do memorando abre mais um capítulo do governo-crise encabeçado pelo primeiro-ministro Rishi Sunak. Até mesmo integrantes do Partido Conservador, do qual Sunak faz parte, criticaram duramente a possibilidade do Reino Unido desistir de seus compromissos financeiros contra a mudança climática.
Na semana passada, o vice-ministro para energia, clima e meio ambiente, Zac Goldsmith, renunciou ao posto com críticas ásperas ao premiê, acusado de não ter interesse em questões ambientais e climáticas. Para ele, o governo do Reino Unido está abdicando de seu papel de líder na luta contra a mudança climática e prejudicando países aliados que dependem desses recursos, como é o caso de diversas nações africanas e asiáticas, muitas ex-colônias britânicas. BBC, Bloomberg, Independent, Sky News, Reuters e Telegraph, entre outros, repercutiram a notícia.
ClimaInfo, 6 de julho de 2023.
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