Títulos verdes superam financiamentos a combustíveis fósseis no 1º semestre

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REUTERS/Jean-Paul Pelissier

Pela primeira vez, empresas e governos estão captando mais dinheiro nos mercados de dívida para projetos ambientalmente limpos do que para combustíveis fósseis. Contudo, ainda não se sabe se tal mudança de perfil será permanente, nem se de fato se trata de uma virada de chave global para a transição energética.

De janeiro a junho, quase US$ 350 bilhões foram levantados com vendas de títulos verdes e acordos de empréstimo, ante menos de US$ 235 bilhões em financiamentos relacionados a petróleo, gás fóssil e carvão, mostram dados compilados pela Bloomberg. Em igual período de 2022, a proporção foi de cerca de US$ 300 bilhões verdes e US$ 315 bilhões de combustíveis fósseis.

Entretanto, para April Merleaux, gerente de pesquisa da organização ambiental Rainforest Action Network, “é muito cedo para dizer se isso é uma boa notícia” numa perspectiva climática. Isso porque grande parte da emissão verde deste ano é de instituições financeiras, governos, um punhado de serviços públicos, mas poucas empresas de energia renovável, comparativamente. Além disso, não está claro como todos esses fundos estão sendo usados ​​e o que isso significa para a transição energética.

Na 4ª feira (5/7), a UNCTAD, órgão da ONU para comércio, pediu apoio para atrair investimentos em energia renovável nos países em desenvolvimento, a fim de garantir sua transição para fontes energéticas mais limpas, relata a Reuters. O investimento mundial em renováveis quase triplicou desde o Acordo de Paris de 2015, mas se concentrou nos países desenvolvidos.

O relatório da UNCTAD estima que os países em desenvolvimento precisam de investimentos em energia renovável de cerca de US$ 1,7 trilhão por ano. Mas, em 2022, atraíram recursos estrangeiros diretos em energia limpa no valor de US$ 544 bilhões, segundo o documento.

O professor Navroz K. Dubash, da Universidade Nacional de Singapura, avalia que a cúpula de líderes do G20 em setembro, na Índia, é uma chance de encontrar formas para promover ações climáticas equitativas e ambiciosas. E reforça que a responsabilidade por uma solução não deve recair sobre aqueles que menos contribuíram para o problema e são menos capazes de resolvê-lo. 

“Os custos de uma transição de baixo carbono não podem ser colocados nas costas dos pobres, mantendo as pessoas na pobreza energética ou desviando fundos necessários para gastos sociais. Discussões intensas sobre equidade climática nas negociações climáticas das Nações Unidas em Bonn, na Alemanha, no mês passado, mostram que as tensões históricas entre países de alta e baixa renda sobre quem deve fazer o quanto para lidar com a mudança climática estão chegando ao auge”, explica ele, em artigo na Nature.

Em tempo 1: Mais de 1.500 lobistas nos Estados Unidos estão trabalhando em nome de empresas de combustíveis fósseis. Mas, ao mesmo tempo, representam centenas de cidades, universidades, empresas de tecnologia e grupos ambientais administrados por liberais que dizem estar enfrentando a crise climática, revela o Guardian. Os “agentes duplos” lobistas do petróleo, gás fóssil e carvão são empregados por uma vasta gama de instituições: os governos municipais de Los Angeles, Chicago e Filadélfia; gigantes da tecnologia, como Apple e Google; mais de 150 universidades; alguns dos principais grupos ambientais do EUA; e até estações de esqui que estão vendo sua neve derreter pelo aquecimento global.

Em tempo 2: O CEO da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, disse que as empresas mundiais de petróleo e gás devem apresentar na COP28 suas metas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa até 2030. Mas sua sugestão, ao que parece, diz respeito à indústria como um todo: “Se pudermos trazer algo para a COP28 como uma indústria de petróleo e gás … (não) são apenas as IOCs (petrolíferas privadas internacionais), mas também as NOCs (petroleiras estatais nacionais) devem ter algumas metas”, disse Pouyanné na conferência do Seminário da OPEP, de acordo com a Reuters. Já seria de bom tom que Pouyanne começasse dentro de casa, ampliando as ambições da petroleira que comanda. Na assembleia de acionistas da Total, no final de maio, ativistas pediram aos acionistas para rejeitarem a estratégia climática da petroleira, vista como pouco ambiciosa e inadequada para conter as mudanças climáticas.

ClimaInfo, 6 de julho de 2023.

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