A ameaça do agro aos biomas brasileiros

17 de julho de 2023
Caatinga
Divulgação

Em todo o mundo, de 90% a 99% do desmatamento das florestas tropicais são causados direta ou indiretamente pela agropecuária, mostrou um estudo publicado na Nature em setembro passado. No Brasil, recentemente o Relatório Anual de Desmatamento (RAD 2022) do MapBiomas confirmou a tendência, com 95,7% do total desmatado no país no ano passado ligados ao setor – com 99% desse desmate com indícios de ilegalidade.

Logo, não é nenhuma surpresa que a agenda ambiental se choque com a pauta do agronegócio. Ainda mais com a forte bancada ruralista no Congresso. Entretanto, segundo o Valor, se um diálogo no curto prazo é quase impossível, pautas futuras, como a do marco regulatório do mercado de carbono, podem aproximar os segmentos. Ainda mais com a crescente pressão da União Europeia sobre o agro brasileiro, que preocupa produtores, aponta o Valor. Por isso há uma corrida pelo rastreamento de cadeias produtivas, mostra o Valor.

Mas, até lá, a batalha entre preservação ambiental e agro devastador é longa e está em todo o país. O Cerrado enfrenta o desafio de equilibrar sua importância hídrica com o avanço da agricultura e da perda de vegetação nativa. Como lembra o Valor, a área sob alerta de desmatamento no bioma cresceu 21% no 1º semestre sobre igual período do ano passado.

Outra fronteira agro, o MATOPIBA – região nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – ameaça o último remanescente de Mata Atlântica em território piauiense, de acordo com o Valor. Trata-se da Serra Vermelha, um pedaço intocado do bioma em pleno Semiárido, próximo ao Parque Nacional da Serra das Confusões, no sul do Piauí.

A atividade agropecuária, relata o Valor, também é uma das causas da desertificação em mais de 110 municípios da Caatinga, único dos biomas do país que é 100% brasileiro. A ela soma-se alta densidade demográfica, desmatamento, queimadas, mineração e influência da crise climática.

Após quatro anos em que a fiscalização ambiental federal foi praticamente extinta, com consequentes recordes de desmatamento na Amazônia e no Cerrado, o Brasil retomou uma agenda conservacionista no governo Lula, reativando as operações e colhendo resultados nos seis primeiros meses do ano. Entretanto, pontua o Valor, ainda falta infraestrutura – resultado do sucateamento promovido pelo inominável na área de fiscalização ambiental.

Ministro da Agricultura entre 2003 e 2006, no governo Lula 1, Roberto Rodrigues afirma que o “céu é o limite” para o crescimento da produção do agronegócio no Brasil, e que, para aumentá-la, “não é preciso desmatar mais nada”. Segundo ele, é preciso enfrentar “aventureiros e bandidos” que desmatam ilegalmente. Rodrigues diz que a utilização de pastagens degradadas para a agricultura é uma realidade, e que essas áreas podem suprir a necessidade de mais terras, relata a Folha.

Na Amazônia, o lucro da floresta em pé é evidente. Como mostra o estudo “Nova Economia da Amazônia – NEA”, destacado pelo Valor, novos investimentos e mudanças para a bioeconomia poderão somar R$ 40 bilhões anuais ao PIB amazônico, com 312 mil empregos adicionais, além de mais 81 milhões de hectares de florestas e 19% de estoque de carbono.

O Valor ainda mostra iniciativas para recuperar áreas florestais degradadas, com parcerias que permitem reflorestamento e compensação de pegadas de carbono com novas técnicas para garantir a fixação da planta no solo. Na Amazônia, os sistemas agroflorestais (SAFs) estão em expansão. E mesmo com recursos ainda escassos, os SAFs avançam embalados nos ganhos financeiros que proporcionam às famílias da região, pontua o Valor.

Em tempo: O BNDES bloqueou 182 solicitações de créditos em imóveis rurais com indício de desmatamento, em operações que somam R$ 62,5 milhões e estão espalhadas por 17 estados, conta Julia Dualibi no g1. O bloqueio se baseia nas informações coletadas pela plataforma MapBiomas, com quem o BNDES firmou uma parceria em fevereiro. Os dados coletados são dos últimos 5 meses e representam 0,9% do total de solicitações para financiamentos no período.

ClimaInfo, 18 de julho de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar