Cúpula da Amazônia fecha com mais promessas do que ações

Cúpula da Amazônia promessas
Divulgação

Enquanto sobraram promessas e colocações vagas, faltaram contundência e urgência de ação na declaração final composta na Cúpula da Amazônia, encerrada ontem em Belém (PA).

O texto final, divulgado na última 3ª feira (8/8) à noite, foi criticado por organizações socioambientais pela timidez de suas proposições e compromissos. A falta de ambição dos países amazônicos contrasta com a urgência da proteção da maior floresta tropical do mundo, ameaçada pelo avanço do desmatamento e pelo fantasma da exploração de combustíveis fósseis na região.

“O documento deveria ser mais ambicioso. Compreendemos a diversidade dos debates que envolvem oito países, e reconhecemos os compromissos políticos assumidos, mas é frustrante a ausência de metas específicas e objetivas relacionadas aos povos indígenas e ao meio ambiente”, afirma Kleber Karipuna, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, a APIB.

“O mundo está derretendo. Não é possível que, diante de tudo o que está acontecendo, oito líderes de países amazônicos não consigam dizer com todas as letras ‘precisamos acabar com o desmatamento’, ‘acabou o tempo da derrubada de florestas’. Acho que faltou uma coisa mais contundente”, disse Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC), ao Estadão.

“A declaração final da Cúpula da Amazônia é decepcionante em vários aspectos, mas principalmente pelo fato dela não incluir compromissos claros e concretos que apontem para a superação da relação que os nossos países têm hoje com a Amazônia”, afirmou Leandro Ramos, do Greenpeace Brasil, citado pela Folha. O Globo e Valor também repercutiram as críticas do Greenpeace.

As críticas da sociedade civil organizada miram principalmente a indisposição dos países amazônicos em discutir o fim de projetos de energia fóssil e a definição de uma meta comum de desmatamento para todo o bioma. Enquanto o primeiro tema era visto com desconforto pelo governo brasileiro, o segundo foi bastante defendido pelos representantes do país nas conversas com os vizinhos amazônicos. No entanto, o texto final apenas sugeriu a importância de uma meta comum, sem se aprofundar em sua definição.

“O processo de negociação é sempre um processo mediado, porque ninguém pode impor a sua vontade a ninguém. Então, são consensos progressivos: à medida em que temos alguns consensos, a gente vai botando no documento”, contemporizou a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima). Estadão e Folha destacaram essa fala.

A Agência Pública sintetizou bem o balanço da declaração final da Cúpula de Belém: os países amazônicos concordaram que é necessário trabalhar para impedir que a floresta atinja seu ponto de não retorno, mas não concordaram sobre como fazê-lo. A urgência que o próprio texto citou como uma das preocupações dos chefes de governo e ministros da Amazônia parece ter sido ignorada na prática em algumas discussões.

Associated Press, Climate Home, Guardian, NY Times e Reuters, entre outros, também abordaram os resultados finais da Cúpula de Belém na imprensa internacional.

 

ClimaInfo, 10 de agosto de 2023.

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