Silveira nega o IPCC para defender exploração de petróleo na Amazônia

Alexandre Silveira
Divulgação

Tentando defender a indefensável exploração de petróleo na foz do Amazonas, ministro de Minas e Energia nega culpa dos combustíveis fósseis na crise climática global.

Titular da pasta de Minas e Energia do governo, Alexandre Silveira dessa vez se superou na absurda pretensão de querer a qualquer custo – sobretudo socioambiental – explorar petróleo na foz do Amazonas e na Margem Equatorial. Numa fala que deixaria a extrema direita orgulhosa, Silveira negou os dados do IPCC, que já mostraram a necessidade de abandonar produção e consumo de combustíveis fósseis o quanto antes para se cumprir o limite de aumento da temperatura de 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais.

“Temos estudos que de forma clara e cristalina contrapõem exatamente essa posição do IPCC”, disse o ministro em entrevista coletiva em Belém, na Cúpula da Amazônia, informam Valor e O Globo. Segundo a Folha, quando questionado sobre qual estudo seria esse, Silveira citou a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) – que, no entanto, aponta o mesmo que o painel climático da ONU. Vergonha passada no débito e no crédito.

Outro defensor da exploração de petróleo na foz do Amazonas, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, também resolveu aparecer na Cúpula. Questionado sobre a pressão popular pelo fim dos combustíveis fósseis na Amazônia, o executivo lançou mão da já batida e falsa premissa de que o petróleo pode ajudar na “transição energética”, relata o Estadão.

Silveira e Prates deveriam escutar mais o presidente da Colômbia, Gustavo Petro. Como destaca Daniela Chiaretti no Valor, Petro mostrou, na Cúpula, que não existe “petróleo verde”. E tocou na ferida ao dizer que, enquanto a direita investe no negacionismo climático sem dó nem piedade, os progressistas “criam outro tipo de negacionismo e falam em transições ecológicas”.

O fato é que o petróleo não faz parte do futuro de um mundo em crise, mas a Amazônia sim. É o que destacam em artigo no UOL Carolina Marçal, do ClimaInfo, e João Pedro Galvão Ramalho, do Fórum Social Pan-Amazônico e um dos organizadores da Assembleia dos Povos da Terra pela Amazônia, realizada em Belém durante os “Diálogos Amazônicos”.

“Será a partir da potência e da pluralidade da maior floresta tropical do mundo que conseguiremos iniciar um esforço global que vai gerar um efeito cascata: o de criar zonas de não proliferação dos combustíveis fósseis e os mecanismos econômicos necessários para viabilizá-las. Diante do agravamento das mudanças climáticas, pensar caminhos que viabilizarão um mundo pós-fósseis não é mais a nossa utopia: é uma necessidade premente”, concluem.

Por isso, Caetano Scannavino, coordenador do Projeto Saúde & Alegria, membro da coordenação do Observatório do Clima e integrante da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais, questiona em artigo na Folha se o Brasil vai querer ir na contramão mundial ao projetar na foz do Amazonas e em toda margem equatorial uma nova frente de exploração. Um petróleo que só deve estar disponível após 2030, quando o consumo dos combustíveis fósseis deverá estar em queda, como projeta a IEA. E cujos ganhos poderão ser nada perto do custo financeiro da crise climática que ele irá agravar.

“Com a margem equatorial, estão previstas receitas entre US$ 770 bilhões e US$ 2,3 trilhões. O valor dessas reservas pode ser infinitamente maior se as deixarmos nas profundezas. Há um custo gigante para cada 0,1°C de aumento da temperatura. O argumento para uma forte ação de curto prazo é, também, econômico. Para cada US$ 1 investido em mitigação, poupa-se de US$ 1,5 a US$ 4 em efeitos das mudanças climáticas. Se mantidos os padrões atuais de emissões, os custos à economia global seriam de US$ 178 trilhões entre 2021 e 2070. Os custos humanos seriam ainda maiores, com aumento de insegurança alimentar, falta de água, migrações em massa e piora nas condições de saúde e bem-estar, principalmente para as populações mais pobres.”

Em tempo: O governo decidiu incluir estudos técnicos, econômicos e sociais sobre a conclusão das obras da usina nuclear de Angra 3, em Angra dos Reis (RJ), no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que será lançado na 6ª feira (11/8). Nos últimos dias, a Casa Civil avaliou interromper a obra, retomada ano passado pela Eletronuclear, enquanto o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira defendia sua continuidade (surpresa!). Silveira foi procurado por parlamentares do Rio para pedir a continuidade das obras, e sua posição acabou prevalecendo. Segundo O Globo, ainda não estava decidido qual valor será colocado no PAC – se toda a obra ou apenas os estudos para a sua conclusão. A avaliação é que é necessário colocar ao menos os estudos no PAC, porque a obra é complexa e precisa de uma análise ampla.

 

ClimaInfo, 10 de agosto de 2023.

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