Em decisão histórica, equatorianos votam por proibição de exploração de petróleo na Amazônia

Equador contra petróleo Amazônia
Rodrigo Buendia / AFP

Com decisão sobre Yasuní, Equador se torna o primeiro país do mundo a banir por plebiscito a exploração de combustíveis fósseis numa zona ambientalmente sensível.

Numa campanha presidencial marcada pela violência, o povo equatoriano foi às urnas no domingo (20/8) para eleger um novo líder. Mas o pleito também incluía um plebiscito para saber se o país deveria parar a exploração de petróleo no Parque Nacional de Yasuní, no coração da Floresta Amazônica, um dos lugares de maior biodiversidade do planeta. Numa decisão histórica, a maioria dos eleitores – quase 60% – decidiu banir os combustíveis fósseis.

Com isso, o Equador se torna o primeiro país do mundo que, por vontade de seu povo, vai banir a exploração de combustíveis fósseis em uma região de alta sensibilidade ambiental, lembra o Observatório do Clima. E num momento crítico, em que a crise climática se intensifica e a Floresta Amazônica se aproxima rapidamente do ponto de não retorno. Um exemplo para todas as nações, inclusive para o vizinho Brasil, onde parte do governo insiste na exploração de petróleo na foz do Amazonas.

“É um dia histórico! Como mulher e mãe Waorani, estou muito feliz com a decisão contundente dos equatorianos de interromper a extração de petróleo na pátria sagrada de meu Povo”, disse Nemonte Nenquimo, líder indígena Waorani e vencedora do prêmio Goldman de meio ambiente, destaca o Guardian.

O petróleo tem peso na economia do Equador. Ainda assim, seus eleitores decidiram abrir mão da receita imediata da atividade petroleira em favor dos Povos Indígenas de Yasuní e de sua biodiversidade. O parque abriga os Povos Tagaeri e Taromenani, que vivem em isolamento, informa a AP. Com mais de 1 milhão de hectares, Yasuní possui 610 espécies de aves, 139 espécies de anfíbios e 121 espécies de répteis. Pelo menos três espécies são endêmicas.

O resultado do plebiscito é, acima de tudo, uma conquista da sociedade civil, destaca o Observatório do Clima. Há uma década o coletivo Yasunidos luta na Justiça pelo direito da população de decidir sobre a continuidade da exploração no parque. O Povo Waorani também já havia obtido uma decisão judicial contra a abertura de mais um bloco de petróleo no parque, em 2019.

Agora, o governo equatoriano terá de retirar ordenadamente todas as atividades relacionadas à extração de petróleo em Yasuní em até um ano, explica a Folha. O prazo começa a contar em 4 de outubro, com a publicação dos resultados oficiais. E o Estado também não poderá fazer novos contratos.

Apesar da região ter sido declarada reserva da biosfera pela UNESCO em 1989, a estatal Petroecuador extrai petróleo do bloco 43 de Yasuní desde 2016, com aval do então presidente Rafael Correa. À época, Correa tentou, sem sucesso, criar um fundo de preservação internacional para evitar a exploração na área.

Houve outra decisão favorável ao meio ambiente no pleito equatoriano de domingo. Os cidadãos de Quito, capital do país, também votaram pelo bloqueio da mineração de ouro no Chocó Andino, uma sensível biosfera montanhosa perto da capital, por uma margem ainda maior, de cerca de 68% a 31%.

A decisão pelo fim da exploração de petróleo em Yasuní foi destaque também no Valor, O Globo, g1, UOL, Um só planeta, IstoÉ, Colabora e CTV News.

Em tempo 1: Estrela da Cúpula da Amazônia por defender o fim da exploração de petróleo na região, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, tem enfrentado desafios para efetivar esse plano em seu próprio país. Não iniciar novos contratos de petróleo foi uma de suas promessas de campanha, compromisso que vem sendo cumprido. Mas especialistas entrevistados pela Agência Pública apontam que o governo de Petro ainda precisa apresentar um plano concreto para que a transição energética no país se consolide.

Em tempo 2: A ilha de Maui, no Havaí, foi devastada recentemente por incêndios florestais que mataram mais de 100 pessoas. Mas, em 2020, o condado moveu um processo que pedia indenização da Exxon, Chevron e outras gigantes do petróleo e gás, acusando-as de um “esforço coordenado e multifacetado para ocultar e negar seu próprio conhecimento” de que a queima de combustíveis fósseis aqueceria o planeta a extremos perigosos. Agora, depois que o fogo alimentado por condições ligadas às mudanças climáticas devastaram a ilha, o processo ganha peso renovado, destaca a Folha.

 

ClimaInfo, 22 de agosto de 2023.

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