Hidrogênio Verde H2V

BRASIL PODE DESPONTAR NA PRODUÇÃO DE HIDROGÊNIO VERDE - H2V - O “COMBUSTÍVEL DO FUTURO”

Produzido com eletricidade renovável, o H2V pode descarbonizar vários setores; mas isto tem que ser feito com respeito aos afetados pelos projetos eólicos e solares

O hidrogênio verde (H2V) é tido hoje como um “combustível do futuro” pela capacidade de descarbonizar setores como siderurgia, transporte, cimento e outros. O hidrogênio pode ser obtido pela eletrólise, processo no qual uma corrente elétrica separa as moléculas da água (H20) em hidrogênio (H2) e oxigênio (O2). Já o “verde” vem por conta da eletricidade empregada, proveniente de fontes renováveis como a solar e a eólica. Em um cenário que junta o aquecimento global com crise energética na Europa, o H2V é uma saída promissora e menos impactante para a segurança energética global.

No cenário futuro de estabilização do aquecimento global em 1,5oC elaborado pela Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena), o hidrogênio e seus derivados serão responsáveis por 12% do uso final global de energia e 10% das reduções de emissões de dióxido de carbono (CO2) por volta de 2050. Neste cenário, eles desempenham um papel importante para setores energo-intensivos difíceis de descarbonizar, como aço, cimento, produtos químicos, transporte de longa distância, transporte marítimo e aviação. Ainda neste cenário, o hidrogênio ajuda a equilibrar a oferta e a demanda de eletricidade renovável, servindo para armazenar energia para compensar as sazonalidades de longo prazo da produção solar e eólica. 

A transição energética pode alterar a posição de países que antes não participavam do mercado internacional energia, com destaque para os que possuem as condições climáticas favoráveis à produção de energia renovável, como é o caso do Brasil – onde se destacam a região Nordeste (eólica e solar), Sul (eólica), e Sudeste (solar). Apesar do mercado de H2V ainda ser incipiente no Brasil, especialistas projetam um grande salto na produção para os próximos 10 a 15 anos.

O mercado interno brasileiro tem projeção de receita de entre US$ 10 a US$12 bilhões por volta de 2040, impulsionado por transportes de carga pesada, siderurgia e outros usos industriais. A exportação para Europa e Estados Unidos pode somar mais US$ 4 a US$ 6 bilhões. O H2V também deve fomentar “empregos verdes”, tendo em vista que a transição energética demanda investimentos, emprego, inovação e capacitação. 

Para que isso aconteça, será necessário ultrapassar algumas barreiras. Uma delas, segundo Monica Saraiva Panik da SAE Brasil, é colocada por empresas que resistem à transição energética e que querem manter seus negócios como estão, fossilizados. Mas como a especialista aponta, “a descarbonização é um processo necessário, não tem volta” e “o Brasil pode fazer muito por ele mesmo e por outros países”.

A começar pela pesquisa e desenvolvimento na redução de custos para a eletrólise da água; no planejamento de sistemas de segurança, já que o hidrogênio é altamente inflamável e coloca desafios técnicos para seu armazenamento e transporte; na implantação de usinas solares e eólicas necessárias para a instalação das centrais de produção de H2V.

Desde abril deste ano, a Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde do Senado tem debatido políticas públicas para o H2V em busca de caminhos para estas questões e do fomento à produção energética de baixo carbono.

Alexandre Alonso Alves, chefe-geral da Embrapa Agronegócio, afirma que o H2V pode ser utilizado para a produção de fertilizantes, hoje, majoritariamente importados (85%). “O Brasil precisa amadurecer uma legislação, uma regulação, que possa dar segurança à iniciativa privada para que possam ocorrer investimentos na área de pesquisa e produção do hidrogênio verde”, comentou o senador Cid Gomes em visita ao Complexo de Suape, em Pernambuco. O polo se destaca como um dos grandes produtores de H2V no futuro.  

Para especialistas, o investimento contínuo em pesquisa e desenvolvimento possibilitará que o hidrogênio verde seja alternativa viável aos combustíveis fósseis, chegando a representar cerca de um quarto do mercado energético mundial até 2050. 

Só não podemos perder a chance de construir uma sociedade mais justa ao mesmo tempo em que descarbonizamos a economia. Os impactos sociais e ambientais da exploração dos combustíveis fósseis não podem ser substituídos pelos novos impactos sociais e ambientais da exploração selvagem da energia eólica e solar que vem sendo feita no Nordeste brasileiro. As empresas precisam melhorar suas práticas e os governos têm a obrigação de proteger as comunidades afetadas pela implantação inadequada e injusta das grandes centrais eólicas e solares.

 

ClimaInfo, 22 de agosto de 2023.

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