O Brasil da Agenda Verde e do petróleo na foz do Amazonas

Haddad agenda verde
Washington Costa / Ministério da Fazenda

Ambientalistas elogiam discurso do presidente Lula na Assembleia Geral da ONU, mas apontam contradição do governo entre plano de transição energética e agenda do petróleo.

“Não dá para ter uma agenda de petróleo tão incisiva, com membros do governo dizendo que a última gota de petróleo será extraída pelo Brasil, e ser líder da Agenda Verde”. A avaliação de Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, resume a percepção de especialistas e ambientalistas sobre o discurso do presidente Lula na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas.

Lula destacou a posição privilegiada do Brasil na produção de energia renovável, mas alas do governo e o próprio presidente vêm defendendo a exploração de petróleo na região da foz do Amazonas.

Para Astrini, o roteiro do discurso do presidente na plenária da ONU foi o esperado, destaca o Valor. “Foi na batida do que vem repetindo, falando de desmatamento, Cúpula da Amazônia, desigualdade, e está ótimo. O governo está entregando”. Contudo, Vera Rosa lembra no Estadão que o discurso omitiu justamente a posição de Lula sobre a exploração de combustíveis fósseis na Margem Equatorial.

“Embora costume emitir sinais trocados em público, Lula é a favor da exploração do potencial petrolífero na chamada Margem Equatorial. Cabe, então, a pergunta: isso não contradiz seu discurso da ONU que, sob o slogan ‘O Brasil voltou’, empunha a bandeira do modelo ambientalmente sustentável?”, pontua ela.

Em artigo no Financial Times, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, escreveu sobre “os planos do Brasil para transformar nossa economia verde”, que prevêm uma mudança “sob a liderança do presidente Lula e em estreita cooperação com minha colega Marina Silva [ministra do Meio Ambiente]”. Mas, na véspera da publicação, a Reuters estampou o título “Brasil provavelmente irá explorar Margem Equatorial para petróleo, diz ministro da Fazenda” em matéria que repercutiu uma fala de Haddad à Band. Para Haddad, a exploração de petróleo na região é a  visão que vai preponderar  no governo, destaca Nelson de Sá na Folha.

Assim, o governo vai dando sinais contrários. E se Lula deve ser elogiado pela cobrança aos países ricos do financiamento climático anual de US$ 100 bilhões prometido e não cumprido, deve ser criticado e pressionado a banir a exploração de combustíveis fósseis na Amazônia, diz Diego Casaes, da Avaaz, que promoveu uma campanha com drones em defesa do bioma nos céus de Nova York na 6ª feira (15/9).

“Se o presidente Lula quer ser um líder global, tem de começar pela Amazônia, colocando a Justiça Climática no centro das suas políticas. Deve impedir a exploração de petróleo na Amazônia e desenvolver um plano de transição para a economia brasileira que deixe de utilizar a floresta como um recurso a ser pilhado para obter lucro.”

 

ClimaInfo, 21 de setembro de 2023.

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